Há três coisas que todo homem sensato deve temer: o mar durante a tormenta, as noites sem lua e a ira de um homem gentil. O Nome do Vento – capítulo 84, Audácia

Quando me deparei com “O Nome do Vento” na estante de uma livraria há um bom tempo atrás, eu olhei para aquela capa do livro, vi a arte de Simonetti e pense: Ótimo desenho, mas será bom o conteúdo?

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Aquela máxima ensinada por nossos pais de “Não se julga um livro pela capa” acabou sendo absorvida por mim, mas de maneira inversa.

Sei que eles queriam me dizer que, as vezes, uma capa feia pode esconder um belo livro. E concordo com eles.

Só que depois de um tempo eu comecei a julgar um livro pela capa. infelizmente.

Capas muito bonitas me davam a sensação de livro ruim. Eu achava que uma capa muito bonita era uma tentativa de vender um livro ruim.

Quando vi O Nome do Vento imaginei que seria mais um livro infanto-juvenil como vários outros, intermináveis.

Eu havia prometido que não iria mais acompanhar sagas enormes, séries imensas.

Por que?

Eu sofri com Harry Potter. Foram 7 longos anos aguardando livro após livro.

As Crônicas de Gelo e Fogo me deixam depressivo quando paro e penso que só saberei o final daqui alguns bons anos.

As Crônicas Saxônicas é meu carma.

Bernard Cornwell insiste em envelhecer mas não terminar a jornada de Uthred. Enfim… eu não dei a atenção devida a As Crônicas do Matador do Rei naquele momento.

Depois de alguns meses um amigo do twitter, vendo meu desanimo em aguardar “Os Ventos do Inverno“,  me indicou a obra de Patrick Rothfuss. “Você vai adorar” dizia ele. Eu me mostrava resistente. Tanto pelo preço do livro, quanto pela quantidade de livros da série (três).

Também não me agradava a ideia de que o terceiro livro ainda não havia sido publicado.

Já aqui no site, muitos leitores perguntavam a minha opinião sobre O Nome do Vento.

Bom… levando em consideração todos esses fatos, pesando os prós (muitos) e os contras (poucos) lá fui eu quebrar minha promessa…

São só 3 livros…

Pensei comigo mesmo (mal sabia eu que quebraria essa promessa novamente, e de uma maneira nunca imaginada antes, falarei disso em um post oportuno).

O Nome do Vento drunkwookieblog

E foi assim que voltei ao mundo da fantasia, e foi assim que conheci Kvothe,e foi assim que eu decidi nunca mais deixar uma oportunidade passar.

O NOME DO VENTO

Sinopse: Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para ingressar na escola de magia, O Nome do Vento acompanha a trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: o desejo de aprender o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano – lendários demônios que assassinaram sua família no passado.

nº de páginas: 656

publicado em: 2009

Primeiras impressões

Logo de início devo dizer que a história de Kvothe é muito intrigante e aliada ao modo como Rothfuss escreve, estamos diante de uma obra-prima. Sem exagero.

Daqui em diante, tentarei ao máximo não entrar em detalhes sobre a trama pois não quero dar nenhum spoiler.

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Arte

A capa é feita por Marc Simonetti, o mesmo artista que faz as capas de As Cronicas de Gelo e Fogo nas edições brasileiras.

A Editora Arqueiro deu um tratamento mais do que especial para a série. A folha é de ótima qualidade, e amarela. Eu prefiro páginas assim, pois eliminam boa parte da luminosidade na hora da leitura. Pode parecer um detalhe bobo, mas a leitura flui bem melhor com esse tipo de papel. E para um livro com 656 páginas, conseguir uma leitura confortável é vital.

Narrativa

Muitos de vocês, assim como eu, se preocupam com o modo que o autor narra os acontecimentos. Aqui você encontrará um tipo de narrativa interessante.

Patrick Rothfuss alterna entre a narrativa em 3ª pessoa e a narrativa em 1ª pessoa. O passado e o presente se apresentam de forma fluída. É como se você ouvisse uma história dentro de uma história. Uma espécie de “inception” literária.

Eu não me lembro de ter vivenciado isso em outro livro.

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Kvothe e seu alaúde

Você conhece o protagonista e logo está mergulhado no passado dele. O “mergulho” é tão profundo que você se esquece de que aquilo é o passado de alguém. E quando você está cada vez mais absorto na narrativa, você volta a tona, ao presente, respira e se prepara para voltar àquela história.

A narrativa se desenvolve de tal forma que você se sente ao lado do Cronista e de Bast. Vocês três ávidos para saber o restante da história.

Realmente a narrativa tem o poder de te atrair. É como uma simpatia conjurada por Kote (não deixe ele saber que eu citei isso, ele não gostaria de saber).

Mundo criado por Rothfuss

Lembram dos sicles, nuques e galeões em Harry Potter?

Aqui vocês encontrarão gusa de ferro, ocre, iota e talento.

Algumas falas dos personagens mostram uma espécie de cultura arraigada. São pequenos fatos que dão vida aos personagens.

O mapa ainda não é familiar para mim, mas creio que logo logo será assim como a Terra-Média Westeros e as cidades livres.

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As cidades tem suas rotinas, tem seus costumes e sua cultura bem arraigada. É interessante ver como é a vida em um bairro pobre, e como é a vida em um bairro mais abastado.

Isso reflete no modo de falar, se vestir e no modo como o indivíduo vê o mundo.

isso é importante (se não, vital) para que uma história consiga ganhar o status de épica. Rothfuss parece bem a vontade dentro de seu mundo. Demonstra conhecer cada detalhe de seu mundo, e não comete nenhum deslize, nem incoerência narrativa.

Esses são aspectos que eu levo em consideração quando leio uma história que tem como finalidade apresentar um novo mundo, um novo universo de fantasia.

Kote endireitou o corpo.― Escute três vezes, Bast.

Bast piscou uma vez e fez que sim. Kote falou com rapidez e clareza:

― Eu era guardião em Ralien, licenciado pela cidade. Fui ferido ao defender com sucesso uma caravana. Uma flechada no joelho direito. Há três anos. No verão. Um comerciante cealdo agradecido me deu dinheiro para abrir uma hospedaria. Seu nome é Deolan. Estávamos vindo de Purvis. Mencione isso como quem não quer nada. Entendeu?

Escutei-o três vezes, Reshi ― retrucou Bast, em tom formal.

―Vá. O Nome do Vento – capítulo 3, Madeira e palavra

Se muitos de nós ao ler ou ouvir a palavra “trouxa” fazemos referência à obra de Rowling, se ao ler “sir” lembramos da grafia alterada de “sor”, creio que incorporaremos palavras como: “latoeiro” em nosso vocabulário e nossa cabeça pensará em muitos significados quando ouvirmos/lermos a palavra “simpatia”, com a mesma facilidade.

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Tenho certeza que Kvothe será um personagem inesquecível de histórias de fantasia

É cedo falar, pois ainda há O Temor do Sábio para eu ler, e o 3º e ultimo livro da série, mas acredito que Patrick conseguirá criar um mundo sólido o bastante para ecoar por muito tempo.

Semelhanças com outras obras

Sempre que um autor se envereda no “mundo da fantasia” sua obra deve passar pelo crivo dos fãs do desse gênero literário. E é comum que fãs do gênero busquem a equivalência em outras obras. É assim entre Tolkien e Martin e creio que será assim com Rowling e Rothfuss.

É possível traçar alguns paralelos e encontrar semelhanças entre A Cronica do Matador do Rei, com Harry Potter.

Há uma grande proximidade ideológica entre as obras.

Não farei um quadro de semelhanças, por que não é essa a intenção, e nem farei um julgamento (qual é o melhor), por que o intuito do post é mostrar a vocês por que vale a pena se deixar envolver pelo mundo de Kvothe. Somente citarei alguns pontos onde a semelhança é grande, e consequentemente muito boa.

A magia reina nesse mundo. mas são poucos aqueles que conseguem usa-la. Aqueles que tem porpensão a serem arcanistas (e não bruxos) podem estudar na universidade, one há vários professores que ensinam matérias como Runas, Ficiaria, nomeação, Física, etc.

Se em Harry Potter temos diferentes personalidades, Hermione, Harry e Rony, em O Nome do Vento vemos todos defeitos e qualidades desses três personagens em Kvothe.

É sério… ele é uma amalgama de Harry/Rony/Hermione.

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O desenho é de Simonetti, mas não se refere à O Nome do Vento. Só que essa imagem reflete muito a infância de Kvothe

Mas não pensem que o garoto de cabelo vermelho se resume a isso. ele consegue ser muito mais. Muito.

Sou da opinião que a obra de Patrick Rothfuss se fortalece por trazer lembranças de outras séries igualmente boas.

Sei que iremos amar e odiar Kvothe até o final da série. Outros personagens, alguns professores tem personalidades marcantes, assim como em Harry Potter.

Duvido que vocês deixem de lembrar HP chegando atrasado a mais uma aula de Poções.

É necessário citar que o livro tem um teor muito mais adulto, se compararmos com os 4 primeiros livros de HP, e pelo final do primeiro livro percebo que a tendencia é ficar ainda mais adulto e sombrio.

Leiam e vocês entenderão o porquê.

Há outros elementos que nos remetem à Hogwats e o mundo criado por J. K. Rowling, mas o livro não se resume a isso, e nem tem a pretensão de ser uma cópia de Harry Potter. muito pelo contrário. Há diversos elementos originais nessa saga.

Novidades

Kvothe é um personagem forte e sofreu até conquistar o que conquistou.

A história de sua infância até o presente está cheio de reviravoltas que o transformou completamente. E é exatamente essa história que você anseia em saber.

Meu primeiro mentor me chamava de E’lir, porque eu era inteligente e sabia disso. Minha primeira amada de verdade me chamava de Duleitor, porque gostava desse som. Já fui chamado de Umbroso, Dedo-Leve e Seis-Cordas. Fui chamado de Kvothe, o Sem-Sangue; Kvothe, o Arcano; e Kvothe, o Matador do Rei. Mereci esses nomes. Comprei e paguei por eles. O Nome do Vento – capítulo 7 , Os primórdios e o nome das coisas

Há uma grande sacada do autor sobre o nome das coisas, mas isso é surpresa… Terão de ler apra saber.

O modo como Rothfuss retrata a magia é único. Ele mistura magia com leis da física e da química. isso é bastante promissor. Existem regras para conseguir fazer uma simpatia eficiente.

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Não quero estragar a surpresa, por isso evitarei de entrar no mérito específico das simpatias.

― A lei da simpatia é uma das partes mais básicas da magia. Ela afirma que, quanto mais semelhantes são dois objetos, maior é sua conexão por afinidade. Quanto maior a conexão, maior a facilidade com que eles se influenciam mutuamente. O Nome do Vento – capítulo 11, A conexão do ferro

Assuntos como drogas, demônios, roubos, magias com sangue e agiotagem são abordados sem medo.

A música

Um dos elementos mais bem abordados nesse universo criado por Rothfuss é a ligação de Kvothe com a música.

Ela é retratada de forma muito bonita e tem uma grande importância para motivar o protagonista. A descrição das músicas é tão detalhada que a torna quase palpável.

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É claro que eu tocava. Era meu único consolo.

[…]

Já inventara canções antes; tinha até ajudado meu pai a compor um ou dois versos musicais. Agora, porém, dedicava a isso toda a minha atenção. Algumas daquelas canções eu guardo comigo até hoje.

Logo depois que comecei a tocar… como posso descrevê-lo?

Comecei a dedilhar algo diferente de canções. Quando o sol aquece a relva e a brisa nos refresca, isso traz uma certa sensação. Eu tocava até encontrar a sensação certa. Tocava até a música soar como Relva Morna e Brisa Fresca. Tocava só para mim, mas eu era uma platéia exigente. Lembro-me de ter passado quase três dias inteiros tentando captar Vento Girando uma Folha.

No fim do segundo mês, conseguia tocar as coisas quase com a facilidade com que as via e sentia: Sol poente por trás das nuvens, Pássaro bebendo água, Orvalho nas samambaias.  O Nome do Vento – capítulo 19, Dedos e cordas

Eu não sou conhecedor do mundo da música, mas acredito que todos aqueles que tocam violão, piano ou qualquer outro instrumento musical, ou ainda de alguma forma conhecem ou estudam música, acharão o livro primoroso.

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Todos aqueles que lerem As Crônicas do Matador do Rei, e forem jogadores de RPG, imediatamente vão querer um personagem bardo.

Personagens secundários

Li algumas outras resenhas e vi que muitos elogiam o modo como o autor aborda outros personagens da série. Não houve um aprofundamento grande. Faltou algo.

Talvez se deva ao fato do modo como Patrick decidiu abordar a história, escrever o livro em sua maior parte em 1ª pessoa.

Esse tipo de abordagem tende a limitar um maior aprofundamento em personagens cujo protagonista não tem muito contato. Por outro lado essa abordagem nos aproxima do protagonista de uma forma visceral e  muito intima.

Há momentos em que você sente a dor de Kvothe, sente  sua frustração e sente sua raiva.

Claro que os personagens secundários tem suas personalidades bem definidas, e bem construída. Talvez o “efeito Martin” me faça exigir muito mais nesse quesito.

Mas é claro que vocês não deixarão de se encantar com a pequena e selvagem Auri, rir com Wilem e Simon, desejar Feila e se irritar com Denna.

Outros pontos positivos

Um outro ponto alto são os mistérios que a história nos traz. Eu, que sou fissurado nisso, começo a pensar em várias teorias sobre quem é o Chandriano? Por que o mundo está assim? Quem é o matador do Rei e por que ele matou o Rei?

Lendo apenas o primeiro livro, não é possível encontrar respostas para essas perguntas, mas é possível perceber que o tabuleiro está montado, e Rothfuss move as peças com maestria…

Os ávidos leitores Martinianos conseguirão perceber muitos fatos que parecem sem importância no início, mas que depois passam a ser importantes.

Alguns diálogos tocam forte o leitor. Eu acho isso essencial em um livro considerado uma grnade obra.

Kote demorou muito a responder.

― Eu tenho o hábito de pensar demais, Bast. Meus maiores sucessos vieram de decisões que tomei quando parei de pensar e simplesmente fiz o que me parecia certo. Mesmo que não haja uma boa explicação para o que fiz ― disse, com um sorriso tristonho. ― Mesmo que tenha havido ótimas razões para eu não fazer o que fiz. O Nome do Vento – capítulo 3, Madeira e palavra.

Pontos negativos

Não sei se há pontos negativos. É verdade que há alguns apontamentos a serem feitos, mas eu assumo… se tivesse lido esse livro há 10 anos atrás, estaria eufórico, assim como fiquei quando terminei O Prisioneiro de Azkaban e percebi que estava completamente fã de Harry Potter.

Hoje eu percebo alguns pontos que não me agradam em um livro, mas isso é extremamente pessoal e duvido que seja importante ao ponto de ser um problema.

Há um ou dois momentos no livro que custam a passar e você acaba por se cansar. Talvez a teimosia de Kvothe, a insistência dele por determinado assunto, acaba cansando. o clímax do livro não foi suficiente. Era de se esperar um cliffhanger mais profundo… É como se não tivesse um bom gancho para continuar a história. Eu esperava algo grandioso.

Criaturas fantásticas fazem parte de livros de fantasia

Mesmo assim sei que O Temor do Sábio guarda segredos que quero descobrir. Afinal, todos nós queremos saber o nome das coisas (do vento principalmente) e descobrir quem são os Chandrianos.

Leiam As Crônicas do Matador do Rei, e logo logo estaremos discutindo novas teorias sobre o final dessa incrível saga.

Quero tirar todos vocês da depressão “Cadê os ventos do inverno” e dizer que há vida entre um livro de Martin e outro.

Caso queira comprar O Nome do Vento, a livraria Cultura tem…

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Fiquem com uma passagem de O Nome do Vento que eu achei sensacional…

A MAIOR FACULDADE QUE nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar com a dor. O pensamento clássico nos ensina sobre as quatro portas da mente, e cada um cruza de acordo com sua necessidade.

Primeiro, existe a porta do sono. O sono nos oferece uma retirada do mundo e de todo o sofrimento que há nele. Marca a passagem do tempo, dando-nos um distanciamento das coisas que nos magoaram. Quando uma pessoa é ferida, é comum ficar inconsciente. Do mesmo modo, quem ouve uma notícia dramática comumente tem uma vertigem ou desfalece. É a maneira de a mente se proteger da dor, cruzando a primeira porta.

Segundo, existe a porta do esquecimento. Algumas feridas são profundas demais para cicatrizar, ou profundas demais para cicatrizar depressa. Além disso, muitas lembranças são simplesmente dolorosas e não há cura alguma a realizar. O provérbio “O tempo cura todas as feridas” é falso. O tempo cura a maioria das feridas. As demais ficam escondidas atrás dessa porta.

Terceiro, existe a porta da loucura. Há momentos em que a mente recebe um golpe tão violento que se esconde atrás da insanidade. Ainda que isso não pareça benéfico, é. Há ocasiões em que a realidade não é nada além do penar, e, para fugir desse penar, a mente precisa deixá-la para trás.

Por último, existe a porta da morte. O último recurso. Nada pode ferir-nos depois de morrermos, ou assim nos disseram. O Nome do Vento – capítulo 18, Estradas para locais seguros

O Temor do Sábio me aguarda

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