Com a iminente chegada da segunda temporada de Demolidor no Netflix e a recente experiência que tive com uma cerveja de teor alcoólico abaixo dos 5,5%, desta vez decidi abordar um arco de história do meu herói favorito acompanhado de uma Maredsous Brune, cerveja de abadia belga com um teor alcoólico mais elevado, do estilo dubbel.
Você encontrará o encadernado de luxo Demolidor – Revelado, com um ótimo preço, na Saraiva.
Enquanto a Maredsous Brune você encontra na My Best Beer, tanto a garrafa de 330ml, quanto a de 750 ml
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História em Quadrinhos do dia – Demolidor: Revelado
Editora – Marvel Comics
Editora no Brasil – Panini
Roteiro – Brian Michael Bendis
Desenho – Alex Maleev, Manuel Gutierrez, Terry Dodson
Arte-Final – Rachel Dodson
Cores – Matt Hollingsworth
Publicação original – 2001
Publicação no Brasil – 2003 (o encadernado foi lançado em 2015)
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Rótulo do dia – Maredsous Brune – 330ml
País de Origem – Bélgica
Estilo – Belgian Dark Strong Ale (Belgian Dubbel)
Volume – 330 ml
Teor alcoólico – 8,0%
Cervejaria – Brouwerij Moortgat
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Demolidor – Revelado é um encadernado de luxo lançado pela Panini em 2015, que traz nada menos do que 15 edições do Demônio da Cozinha do Inferno, abordando uma das melhores fases do herói, escritas por Brian Michael Bendis.
Eu sou suspeito para falar de Bendis.
Na época da faculdade, (2002/2003), eu cogitava parar de colecionar quadrinhos. Porém, Bendis foi responsável pela minha decisão de continuar. Ele escrevia Demolidor, era o responsável pelo Homem-Aranha da linha Ultimate, criou Jessica Jones, escreveu Vingadores: A Queda e muitas outras histórias que me fascinavam.
Foi pelas mãos dele que o Demolidor deixou de ser um herói secundário e ganhou, merecidamente, seu lugar ao lado dos heróis do primeiro escalão. É por isso eu tenho um grande apreço por esse roteirista.
Já a arte desse encadernado é variada, trazendo o trabalho de três desenhistas diferentes. O artista responsável pelo arco de história O Segundo Homem (Underboss), e Revelado (Out) é Alex Maleev, alguém que dispensa apresentações. Ele é fantástico!
A Maredsous Brune é uma cerveja dubbel muito interessante. Na verdade, todas as cervejas belgas são interessantes e valem a pena ser degustadas.
Essa cerveja é fabricada por monges da Abadia de Maredsous.
Dizem que após a proibição da vida monástica por Napoleão, os monges se dispersaram.
Todavia, reorganizaram sua ordem novamente e voltaram, no século XIX.
A Abadia beneditina de Maredsous foi fundada em 1872, em uma área de Deneé, na Bélgica, em uma área onde se fala francês. A partir daí cresceu e ganhou grande importância na Bélgica.
O que precisamos saber sobre a HQ?
Não é necessário saber muito sobre o cenário anterior do Demolidor para poder entender o primeiro arco de história desse encadernado.
Talvez seja interessante saber que, anos atrás o Demolidor foi interpretado de forma magistral pelo gênio Frank Miller em A Queda de Murdock, arco em que vemos Wilson Fisk descobrindo a identidade secreta do Demolidor e fazendo a vida de Matt Murdock vir um inferno.
E alguns anos depois, fomos agraciados com a minissérie chamada O Homem Sem Medo, que conta a origem do herói.
Essas duas séries que mostram como o Demolidor combina com um estilo de história mais adulto, mais complexo e profundo. Exatamente o estilo que veremos na HQ de hoje.
O que precisamos saber sobre o rótulo?
Como havia dito, a Maredsous Brune é uma cerveja de Abadia de estilo Dubbel. Porém, o que é estilo dubbel?
Dubbel foi o nome dado às cervejas produzidas para serem consumidas nas festas religiosas. Esse tipo de cerveja era (e ainda é) diferente das ales, as cervejas usadas na dieta diária dos monges.
Por serem cervejas consumidas em datas festivas, as dubbel tinham um teor alcoólico sempre mais alto do que as ales comuns. É esse teor alcoólico alto que você sentirá, ao degustar essa cerveja, mas de forma tão complexa, que ele não incomodará.
Demolidor – Revelado e Maredsous Brune
Esse encadernado é grande demais para manter um leitura contínua, pois reúne 15 revistas mensais lançadas entre 2001 e 2002. Decidi abordar o primeiro arco de histórias, chamado “O Segundo Homem” (Underboss, em inglês).
Da mesma forma que optei por uma garrafa de 330 ml porque a Maredsous Brune é forte, e dificilmente você tomaria uma garrafa de 750ml sozinho e conseguiria continuar lendo…
Volume de cerveja definido, arco de história delimitado, agora é hora de falar de ambos.
O Segundo Homem começa de uma forma bem drástica. Uma cena que remete ao destino de Júlio César que choca até os leitores mais veteranos. Eis que você pensa: E agora?
Porém, um letreiro escrito: UMA SEMANA ATRÁS nos alivia e nos instiga ao mesmo tempo. O que aconteceu antes do ataque ao Rei do Crime?
A Maredsous Brune é perfeita. Não importa quantas cervejas você já tomou, quantas dubbel já experimentou, o primeiro gole sempre é surpreendente e bem-vindo.
Sabores como de café preto ou de algo torrado podem ser sentidos, junto com o doce do caramelo.
Na HQ, vemos que Brian Michael Bendis nos convence de que não importa saber o final de uma trama, mas sim saber como chegamos até ali. É dessa forma que ele desenvolve O Segundo Homem.
O tom escuro, evocado pelas cores de Matt Hollingsworth, age muito bem com o traço de Alex Maleev. O roteiro de Bendis sabe aproveitar os poderes do Demolidor e o modo como Matt Murdock “sente” o mundo.
Você para e pensa: Como alguém pode imaginar que os sentidos de Matt funcionariam dessa forma?
Após uma explosão, vemos que os sentidos do Demolidor ficaram embaralhados. E há uma sequência de três quadros, cheios de pensamentos do herói. É sensacional!
Minha cabeça está explodindo. Girando. Não devia arriscar.
Tenho que pegar – – Música? Salsa.
Pare de datilografar!!
O idiota estava atrás de mim.
O cheiro do metrô irrita meus olhos.
Esse cheiro… Esse… Controle-o. Seu treinamento. Stick.
Enquanto isso a Maredsous Brune já demonstra que é a cerveja certa para harmonizar com o Demolidor.
A visão, o olfato e o paladar são os sentidos atingidos pela a cerveja. A cor branca da espuma e do líquido rubi escuro, chama muita atenção. Depois do primeiro gole, você sente o aroma de frutas e o caramelo se mostra bem presente. Tem algo que lembra um pouco figo ou passas. Há também algo que lembra terra (posso estar viajando).
O sabor marcante do álcool está lá, por baixo de tudo isso. Tudo muito equilibrado.
A trama continua transitando entre presente e passado. Então, ao mesmo tempo em que perguntamos: Quem é Silke? Por que há um prêmio pela cabeça do advogado cego? Porque o Rei foi vítima de uma atentado?, também temos respostas que nos fazem entender os motivos dos personagens e da trama.
Podemos ver também um pouco mais sobre os homens que seguem Wilson Fisk. O que eles fazem, o que conversam e como alguém com o dom da oratória pode instigar dúvidas nos homens de confiança do Rei.
E não para por aí.
Bendis tem o dom de nos amarrar à trama. Ver policiais do FBI conversando e investigando é tão empolgante quanto ver o Demolidor quebrando algumas caras na noite da Cozinha do Inferno.
Ultrapasso pouco mais da metade da Maredsous Brune e posso dizer que ela provou ser a cerveja certa para acompanhar esse tipo de leitura. Climas tensos e escuros em harmonia com uma cerveja forte e complexa.
Há um momento (a partir da página 54) em que a história não tem diálogo. Matt Murdock está sendo caçado e ainda não sabe o motivo, mas nem por isso ele pode ser pego desprevenido. Essa sequência é muito boa, e dá para ver que é possível narrativa sem diálogo.
Já nesse momento a Maredsous Brune fez seu trabalho. Os 8% de teor alcoólico mostram a que vieram dentro dessa dubbel fantástica.
É um momento de pura contemplação, com uma narrativa silenciosa criada por dois gênios da arte do quadrinho e degustação de uma cerveja, cuja receita foi desenvolvida por monges belgas.
Pronto, HQ totalmente harmonizada com a cerveja.
Como a história dos monges cita que a cerveja era tomada em datas comemorativas, acredito que acertei.
Não há nada melhor para festejar do que uma HQ do Demolidor da fase Maleev/Bendis. O arco “O Segundo Homem” é um dos meus arcos favoritos e relê-lo acompanhado de uma ótima cerveja só me deixa mais feliz. O final desse arco cria um grande gancho para o próximo arco de histórias, chamado Revelado.
Sim, toda essa qualidade narrativa e gráfica de O Segundo Homem serve para lançar o leitor dentro do arco Revelado. Arco que mexeu com o herói de forma profunda e complexa. Porém, a Maredsous Brune de 330 ml acabou e, assim como eu havia definido, paro por aqui.
Veredicto Drunkwookie
Nota da HQ
Nota do Rótulo
Nota da Harmonização
Conclusão
A dualidade de Matt Murdock, a sua luta contra o crime (tanto de dia como advogado, quanto de noite como Demolidor), me fascina.
E cada vez que tomo uma cerveja de abadia eu me fascino da mesma forma.
De um lado temos uma cerveja belga, criada para festas, refermentada na própria garrafa , seguindo regras rígidas de produção monástica que perduraram, mesmo após a intervenção napoleônica.
Do outro, temos um personagem que, nos últimos anos vem se reinventando dentro do próprio gênero que o consagrou, buscando formas de prosseguir. E consegue, de forma primorosa.
Gosto desse clima mais adulto, mais sombrio e complexo. Ele funciona muito bem para o Demolidor.
Muitos falam que o quadrinho perdeu a inocência ou que falta aquele antigo DNA do início. Eu concordo em partes, pois não veremos muito da essência de Bill Everett e Stan Lee (os criadores) neste Demolidor.
Porém, concordo que evoluir é preciso e adaptar-se é necessário. São milhões de pessoas que gostam da arte de quadrinhos. Hoje são várias mulheres, homens, crianças, adolescentes, adultos, jovens, senhores e senhoras que lêem quadrinhos.
Optar por continuar contando histórias do mesmo modo, com o mesmo tom, com certeza saturaria o mercado.
É preciso encontrar coisas novas, trilhar novos caminhos. E depois voltar, se for necessário. Quadrinhos deve ser um mundo de experimentações, assim como o das cervejas.
O modo como Bendis decidiu contribuir com a mudança do Universo Marvel, foi sensacional. Ele ousou e foi feliz com suas decisões. Foi algo que revigorou o Universo Marvel e trouxe um novo fôlego para pessoas que queriam ver algo diferente.
A Maredsous Brune, feita por monges (obrigado pelos mosteiros espalhados pela Bélgica) é uma cerveja que parece contar uma história que você “lê”, principalmente, pelo paladar e olfato. Parece exagero, mas não é.
Essa foi a cerveja e HQ que mais harmonizaram, até o momento. Espero acertar mais vezes, pois a experiência foi muito boa. O encadernado ainda tem mais 09 edições e a Maredsous tem mais dois tipos de cerveja: A Maredsous Blond 6 e Maredsous Tripel 10 .
Acho que a possibilidade de terminar Demolidor – Revelado com dois outros tipos de cerveja de abadia é um caminho certo a ser seguido. Sem Medo.
Para o próximo post, trarei uma HQ nacional cheia de atitude e uma cerveja que vai quebrar seus conceitos sobre o estilo IPA.
Até lá…