Guest Post – “5 Livros que o Drunkwookie precisa ler” por Fernanda Castro

WOW…me belisca: eu estou mesmo escrevendo no Drunkwookie?

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Para quem não conhece meu blog, o The Bookworm Scientist, é preciso entender que ele não existiria se não fosse o Leandro. Ou talvez até existisse, mas sem metade da alma que tento impregnar em suas postagens.

No comecinho de 2015, quando eu ainda dava meus primeiros passinhos no mundo dos blogs literários, fui tietar o Drunkwookie. Era meu blog favorito, afinal de contas. Fui na cara e na coragem, fazendo jabá sobre um post que eu havia escrito comparando a formação da Terra Média com a de Nárnia. O máximo que poderia acontecer era o cara ler, certo?

Mas como já diria Bilbo Bolseiro, a gente nunca sabe onde vai parar se não permanecer prestando atenção aos próprios pés. Alguns textos trocados, livros compartilhados e debates depois, cá estou eu em uma missão hercúlea: indicar cinco livros que o Leandro precisa começar a ler de qualquer jeito.

Isso é meio que uma mania de leitor. A gente está sempre tentando empurrar os livros que amamos goela abaixo nas outras pessoas. Afinal, se estas obras mudaram nossas vidas para sempre, queremos que mudem também as vidas dos nossos amigos, certo?

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Então, se você ainda não leu os livros que vou indicar, fica aí a minha sugestão. Mas caso você já tenha lido algum deles…bem, faz um favor ao Leandro e fica no pé dele até ele começar a ler, tá bem?

Vejamos:

5 – Bravura Indômita (Charles Portis)

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Tá bem, preciso admitir: esse aqui eu só fui atrás de ler depois que vi o filme (a versão com Jeff Bridges).

Sou completamente encantada pela personagem Mattie Ross, a garota de 14 anos que parte numa jornada para vingar a morte pai em pleno Velho Oeste. O quão badass pode ser uma menina assim?

Mattie acaba sendo auxiliada, a muito contragosto, pelo homem da lei Rooster Cogburn e o Texas Ranger LaBoeuf. E aí reside a maior graça do livro: como personalidades tão diferentes, com motivações tão distintas, podem acabar criando afeição? Mattie é aquela cola grudenta e teimosa que mantém o grupo unido. Suas interações com dois homens tão vividos são mais dignas de nota do que o próprio enredo de vingança em si.

Mas talvez Bravura Indômita tenha me conquistado pela sua narrativa. Charles Portis tem um jeito tão “Velho Oeste” de escrever! Seus personagens são duros, sua condução do enredo é seca. E eu admiro profundamente autores que conseguem passar a alma de suas histórias apenas com uma escolha estudada das palavras. É uma forma meio mágica de metalinguagem. Você abre a página e é como se já pudesse sentir a poeira grudando na pele.

Bravura Indômita é uma aventura 100% western, de personagens humanamente falhos e sinceros. E que tempestade é a pequena (e gigantesca) Mattie Ross!

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4 – As Formigas (Bernard Werber)

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Pouca gente conhece essa trilogia (o que é uma pena). No primeiro volume da série, acompanhamos duas histórias distintas porém convergentes: Jonathan Wells acaba de herdar o apartamento do tio falecido, um lugar esquisito com uma porta lacrada. Enquanto isso, na colônia de Bel-o-kan, o 327º macho está para descobrir uma conspiração dentro do próprio formigueiro-metrópole.

Werber estudou formigas por mais de 15 anos. O livro é cheio de dados científicos e é bastante verossímil em relação ao comportamento destes insetos. Que olha, são seres magníficos.

Nós temos mania, enquanto seres humanos, de relativizar a inteligência alheia de acordo com a nossa própria. Então costumamos pensar em insetos como animais realmente estúpidos. Mas a gente esquece de levar em conta uma coisa muito importante: a consciência coletiva.

Imagine um computador poderoso, com centenas de milhares de microprocessadores. Um só processador pode não ter assim tanto poder, mas sua capacidade combinada é infinitamente maior do que a nossa. Como pequenos neurônios de um organismo muito maior, as formigas se organizam em atividades sofisticadas que o tal bicho homem parece incapaz de fazer.

Ah, e não se engane pelo tamanho: imagine se você pudesse cair de alturas enormes sem sofrer um machucado, ou se pudesse ler trilhas de feromônios com mensagens decodificadas. Se as formigas fossem do nosso tamanho, se essa briga fosse de igual para igual, teríamos alguma chance?

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E se a coisa já tá parecendo assustadora o suficiente para você, vamos relembrar que o Brasil é o país com a maior quantidade de espécies de formiga, e que a estimativa do número total dos bichinhos é de 10,000,000,000,000,000 representantes. Isso aí, dezesseis zerinhos.

Inteligência do indivíduo versus inteligência coletiva: em quem você aposta? Ah, Drunk, como é que alguém pode não querer ler isso?

3 – Ayla, a Filha das Cavernas (Jean M. Auel)

Eu encontrei esse livro totalmente por acaso em uma livraria, num daqueles episódios de “amor à primeira capa”. Andava querendo ler ficção sobre o período pré-histórico, e Ayla acabou caindo como uma luva.

Eu só não imaginava que encontraria algo tão precioso assim. De mera desconhecida, a protagonista de Jean M. Auel já ganhou lugar de honra na estante.

Primeira coisa a dizer sobre esse livro: que pesquisa histórica de cair o queixo. Tudo bem que vários aspectos foram romantizados pela autora, como o sorriso branquinho e os cabelos sedosos da Ayla, mas dá para aprender muito sobre tribos neandertais, geografia, clima e biodiversidade da época. É algo diferente do que estamos acostumados a encontrar.

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Ayla, a Filha das Cavernas é apenas o primeiro livro de uma longa saga: Os Filhos da Terra. Em cada um dos pesadíssimos volumes, Auel foca em diferentes dilemas humanos. No primeiro livro, temos a individualidade, a aceitação e as questões de gênero. O segundo livro foca no relacionamento físico/emocional entre pessoas de diferentes culturas. O terceiro falará sobre as relações sociais. E, por fim, o quarto, quinto e sexto livro irão por um viés filosófico e espiritual.

A religiosidade dos neandertais, seus animais totem, seus espíritos e tradições são fascinantes. Para quem gosta de um tipo de fé mais conectado com a natureza, o livro é um prato cheio.

Ainda mais quando essas manifestações culturais são amarradas pela autora com provas históricas: uma escultura perdida aqui, uma pintura escondida na caverna acolá. Após a leitura, é como se você enxergasse o legado deste povo por toda parte.

Ok, mas porque então não recomendei a série inteira? Bem, digamos que Jean M Auel é chegada a um romance. A cada novo livro, acompanhamos mais de perto os amores e desventuras da protagonista, o que pode cansar algumas pessoas. Embora a história se mantenha em ótima qualidade, apenas o primeiro conserva um grau de aventura capaz de conquistar qualquer leitor. O final é bem fechado e já é suficiente para te fazer pensar.

Todo mundo deveria ler Ayla. E, se a curiosidade bater mais forte, continuar lendo os outros volumes de Os Filhos da Terra.

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beijos neandertais

2 – Lordes e Damas (Terry Pratchett)

O nome Terry Pratchett na capa já é por si só uma ótima indicação. Porém, de tudo o que li do autor até hoje (embora não tenha coberto nem 10% de sua produção), Lordes e Damas conquistou com louvor seu posto de livro favorito.

Em Lordes e Damas, temos uma releitura de Sonhos de uma Noite de Verão, de Shakespeare, onde os habitantes de Faërie estão vindo ao mundo dos humanos para causar confusões. Porém, tente imaginar todos os clichês que você já escutou sobre bruxas, magos, elfos, casamentos da realeza e orangotangos. Agora adicione uma pitada de sátira pra lá de ácida e alguns encontros casuais com uma personagem bem interessante: a própria Morte. Deu pra sentir o tamanho da salada?

Mas claro, Pratchett não se limita apenas a fazer graça. Lordes e Damas também é uma obra magnífica em retratar as diferenças de gênero dentro do mundo da fantasia, bem como em passar um monte de críticas sociais bem debaixo do nosso nariz.

E se você é fã de Neil Gaiman e, principalmente, se é fã de Sandman (essa é pra você, Drunk), Lordes e Damas traz um agradável reencontro com nosso querido arquétipo das Três que são Uma: a velha, a mãe e a donzela. Além disso, você ainda vai conhecer Esme Weatherwax, que é simplesmente a minha bruxa favorita de todos os tempos.

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Lordes e Damas é uma continuação de Quando as Bruxas Viajam, outro livro de Discworld, mas pode ser lido separadamente sem prejuízo algum (foi o que eu fiz).

1 – Golem e o Gênio (Helene Wecker)

Não é todo dia que a gente acha uma história como essa. Helene Wecker tem um jeito muito próprio de conduzir sua narrativa, algo lento e introspectivo, mas de forma alguma tedioso. Sua obra cheira a poeira, concreto e incenso.

Além de entrelaçar mitologia judaica e árabe ao cenário da Nova Iorque de 1899, Helene apresenta um dos dilemas mais interessantes que já vi em seus protagonistas, Ahmad e Chava.

Ahmad é um djin, um ser de fogo, de natureza livre e impetuosa. Uma série de acontecimentos acabam por torna-lo um prisioneiro, uma espécie de gênio da lâmpada. Do outro lado, temos Chava, uma golem de barro, feita para servir. Porém, Chava não tem um mestre.

Ahmad é prisioneiro, mas quer ser livre. Chava é livre, mas quer ser prisioneira.

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O embate entre esses dois é tão profundo e tão delicado, reflete tanto em nossas ações enquanto seres humanos, que eu sinceramente não sei te dizer quantas lágrimas acabaram me escapando durante a leitura do livro.

Como se não bastasse, Helene ainda realizou uma pesquisa imensa, e dá pra aprender muito sobre diferentes culturas e o período histórico da imigração árabe/judaica. O livro apresenta vários personagens, todos bem construídos, com motivações e backgrounds próprios. A autora sabe trançar cada um destes fios com maestria, criando uma daquelas histórias que perduram através do tempo (sim, eu fico poética quando falo desse livro).

BÔNUS – Trilogia Fronteiras do Universo (Philip Pullman)

Já cansei de implorar ao Leandro para continuar a ler essa maravilha de trilogia escrita pelo Philip Pullman. Se o Drunk já gostou do primeiro livro, que é visivelmente o mais fraco da série, imagino o que vai ser quando ele finalmente conhecer o Will.

Fronteiras do Universo é uma saga tocante e profundamente filosófica, daquelas de fazer a pessoa deitar no chão em posição fetal, revendo todos os seus conceitos sobre o Universo. Porém, ao contrário de clássicos como O Mundo de Sofia, onde os dilemas da humanidade são tratados de forma exaustiva a ponto de deixar a narrativa lenta, Fronteiras te faz questionar tudo e qualquer coisa sem que você sequer perceba. A história é muito boa. A construção de mundo é muito boa. Os personagens….bem, digamos que eles me acompanham até hoje.

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Pullman costuma ser duramente criticado nessa obra por uma suposta apologia ao ateísmo, combatendo com vigor a Igreja Católica. Em minha opinião, as pessoas que criticam o autor não devem ter lido Fronteiras com os dois olhos bem abertos.

Philip critica sim a Igreja, mas não em relação à fé ou seus dogmas. O que o autor combate é o controle do Estado por parte da Igreja, a alienação de seus fiéis em relação à própria liberdade. Pullman defende apenas que todo mundo seja livre para praticar e acreditar em qualquer coisa, inclusive coisa nenhuma. A trilogia até cunha um novo termo: deveríamos criar a República do Céu.

Fronteiras do Universo é uma leitura obrigatória. Eu nunca encontrei em minhas andanças literárias, e olha que não foram poucas, alguém que tratasse com tanta leveza, sensibilidade e profundidade de temas como a sexualidade, a tolerância, a ética, a bondade e a fé.

Uma obra sobre seres humanos. Para seres humanos.

(E se você já assistiu ao filme A Bússola Dourada, esqueça: o livro não é nada sobre aquilo)

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Agora vamos tentar andar com essas leituras, né, Drunk?

4 Comentário

  1. Jefferson Santana Jefferson Santana
    4 de novembro de 2016    

    Nossa.. fiquei curioso para saber se os outros cinco livros indicados sãos melhores que a trilogia Fronteiras do Universo. É Fernanda?

    Fronteiras do Universo é sem dúvida umas das melhores sagas, se é que se pode chamar assim, que já li. Certamente, a história me acompanhará para o resto da vida, especialmente a cena final da história, que dá vontade de chorar, confesso que escorreu umas lágrimas.

    Drunk, você precisa ler a Faca Sútil e a Luneta Âmbar, são muito melhores que o primeiro livro e a história irá te emocionar, pode ter certeza.

    • 4 de novembro de 2016    

      Oi, Jefferson! 😀
      Eu coloquei a lista em ordem de preferência, já por achar que Fronteiras do Universo é imbatível, hahahaha. Também rolaram altas lágrimas comigo durante a leitura do terceiro livro.
      Mas todas as indicações são obras de qualidade, de “fazer pensar”. E se você quiser seguir a mesma linha de fantasia + debate ético/filosófico do Philip Pullman, é uma boa apostar em Golem e o Gênio. Creio ser o livro, dessa lista, com maior similaridade ao estilo de Fronteiras do Universo.

      (Ei, Drunk, escuta o Jefferson e vai ler A Faca Sutil!)

  2. 9 de novembro de 2016    

    As dicas eram pro Drunk eu sei, mas agora eu quero ler todos eles e acho que nem tenho dinheiro pra fazer isso (muito menos espaço na estante). E agora Fernanda, o que eu faço da minha vida?

    • 9 de novembro de 2016    

      Abrir uma barraquinha de limonada pra juntar dinheiro até a Black Friday? xD
      Mas acredite…eu sei exatamente o que você está sentindo, hahahha.

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