Depois de um bom tempo parada, a série de post Um Quadrinho, Uma Cerveja retorna, e dessa vez com o quadrinho de um personagem envolto em magia e misticismo. Doutor Estranho.
Com o filme bem próximo da estreia acho legal falar um pouco sobre esse super-herói. E para harmonizar, trouxe uma cerveja feita em monastério, pois acho que tem tudo a ver.
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História em Quadrinhos do dia – Doutor Estranho – O Juramento
Editora no Brasil – Panini (ou Salvat)
Roteiro – Brian K. Vaughan
Desenho – Marcos Martín
Arte-Final – Alvaro Lopez (no capítulo I)
Cores – Javier Rodriguez
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Rótulo do dia – Franziskaner Weissbier
País de Origem – Alemanha
Estilo – German Wheat (Wiezen)
Volume – 500 ml
Teor alcoólico – 5,2%
Cervejaria – Spaten – Franziskaner – Bräu
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O que precisamos saber sobre a HQ?
Acho que antes mesmo de falar sobre a HQ, é interessante falar sobre o próprio Doutor Estranho.
Em 1963, Stan Lee apresentava para os fãs da Marvel um vilão chamado Doctor Strange. Esse Doctor Strange era inimigo do Homem de Ferro e sua primeira aparição se deu em Tales of Suspense #41.
Não, ele não era o Mago Supremo que conhecemos. Era um homem muito inteligente cujo nome era Carlo Strange.
Foi só depois, em Tales of Suspense #110 que Stephen Strange fez sua primeira aparição. Fortemente inspirado em Mandrake, Doutor Estranho antes de obter seus poderes místicos era um renomado e muito arrogante neurocirurgião.
Após sofrer um acidente de carro e perder a sensibilidade dos dedos e não poder mais segurar com firmeza um bisturi, seu mundo desaba.
Desesperado ele tenta toda ajuda que a ciência pode oferecer, porém nada poderia trazer de volta o que o acidente lhe tomou.
Um dia, Strange ouve falar de um velho sábio no Tibete, conhecido apenas como Ancião, que poderia ajudá-lo. Bem… Acho que daqui para frente, seria interessante (para quem não conhece o heróis) acompanhar a origem nos cinemas, será bem mais divertido.
Mas com essa pequena introdução acredito que já dê para perceber algumas sutilezas na origem do herói. Um homem pautado na ciência que de repente se vê frente à um mundo de magia e realidades diferentes. E se torna, ninguém menos do que o Mago Supremo.
Eu sempre achei a arte de Doutor Estranho muito diferente da arte que vemos nas outras HQs de super-herois.
O clima psicodélico criado nos anos 60 por Steve Ditko ditou uma importante regra. As dimensões místicas visitadas pelo Doutor Estranho são sempre insanas, maravilhosas e confusas.
Por isso, sempre que me perguntam sobre o Doutor Estranho eu indico cinco HQs.
Uma Terra sem nome, Um tempo sem Fim, O Juramento, que vamos falar agora, Shamballa, A Busca Pelo Mago Supremo e a saga Os Últimos Dias da Magia (ainda inédito no Brasil).
Na primeira você poderá ter um primeiro contato com um arco de histórias escrito por Stan Lee e desenhada por Steve Ditko (os criadores do herói) que levará vocês às intrincadas (e quase lisérgicas) dimensões em que o Doutor Estranho age. Na segunda, saberão um pouco sobre o homem por debaixo do manto da levitação e por trás do Olho de Agamotto. Já em Shamballa você saberá um pouco mais sobre o mundo místico que Doutor Estranho faz parte e as artes místicas e contemplativas do personagem. O compilado que traz o arco A Busca Pelo Mago Supremo, serve para mostrar o que vem a ser esse título e quem é digno de carregar esse nome, uma ver que Stephen perdeu tal direito. Já em Os Ultimos Dias da Magia, vemos um Doutor Estranho com a mesma essência, porém diferente. E isso é muito interessante.
O que precisamos saber sobre o rótulo?
A Franziskaner Weissbier foi criada em 1363 e até hoje é fabricada. É uma cerveja que fermenta dentro da própria garrafa o que a deixa com um sabor bem vivo e fresco ao colocar no copo.
Essa é uma cerveja de trigo, a mesma cerveja que os babilônios apreciavam.
Porém, o que me levou a tentar harmonizar Doutor Estranho e Franziskaner foi o fato dessa cerveja ter sido criada em um mosteiro alemão.
Acho que a aura mística em torno da origem da cerveja tem tudo a ver com Stephen Strange.
Doutor Estranho – O Juramento e Franziskaner Weissbier
Brian K. Vaughan já nas duas primeiras páginas de sua história nos joga dentro do Universo Marvel, sem aviso.
Ali você vê Araña e Punho de Ferro, na sala de espera do consultório da Enfermeira Noturna. É como se ele estivesse nos dizendo: Sim, essa é uma história sobre super-heróis.
Do mesmo modo os primeiros goles da Franziskaner nos mostra que essa é uma cerveja de trigo muito bem feita.
A cor, a névoa dourada que desprende do fundo da garrafa e o aroma que surge assim que nos aproximamos para o primeiro gole.
E como se as duas páginas iniciais não bastassem para nos fazer entrar na história, nas páginas seguintes temos o Doutor Estranho baleado, sendo carregado por Wong, seu fiel amigo.
Em pouco tempo já estamos apreensivos para entender como tal calamidade pode ter acontecido com ele.
A Franziskaner traz uma refrescância sem igual. Fazia tempo que eu não experimentava uma cerveja de trigo tão boa.
A HQ nos mostra um pouco sobre o passado do Doutor e como ele se tornou o Mago Supremo das artes místicas, mas quanto mais se desenvolve mais vemos os nuances da personalidade de Stephen e não do Mago.
Adoro ver a Enfermeira Noturna e Doutor Estranho conversando. Ele em sua projeção astral e ela retirando a bala do seu peito. É bem divertido!
A Franziskaner combinou com o clima que as cores de Javier Rodriguez evoca. Porém, seria preciso algo mais forte para me fazer entrar nas estranhas dimensões que o Doutor encontra em seu caminho.
Vemos seu relacionamento (e preocupação com a saúde) com Wong, o modo como seu caráter foi moldado após ganhar seus poderes, mas ainda observamos que existe uma certa arrogância e impaciência por debaixo de tudo isso.
Há referência à Timely Publications, que viria a se tornar Timely Comics e no futuro viria a se tornar a Marvel que conhecemos.
As referências não param ai, pois o Elixir de Oktid, capaz de curar o câncer, nada mais é do que Ditko escrito ao contrário. Grande Ditko, criador do Doutor Estranho em parceria com Stan Lee.
Vilão ligado ao passado do herói é algo recorrente na Marvel, porém dessa vez não me incomodou. Acho que fez todo o sentido dessa vez.
Ver o Mago Supremo, capaz de conjurar feitiços de várias realidades, porém limitado, uma vez que foi baleado é sensacional. Esse contraponto entre corpo e alma, é simplesmente magnífico de ver.
Gosto muito de um momento onde o Doutor Estranho diz que está o Guarda Infernal de Marrakant, responsável pela morte de todos magos Supremos que o confrontaram, desde o século 16.
É nesse ponto que chamo a atenção de vocês. Leiam A Busca Pelo Mago Supremo. Ali você verão um ótimo desenvolvimento relacionado à entidade do Mago Supremo. É uma pena que os desenha de Billy Tan não seja tão bons.
Os debates filosóficos e morais contidos nessa HQ são fantásticos. A Panaceia, a cura para todas as doenças do Mundo, a superpopulação, a voraz fome por dinheiro das industrias farmacêuticas, e claro escolhas entre o Mundo ou um amigo.
O confronto final entre Stephen e Nicodemus é sensacional. Nada de magia. Apenas dois homens lutando por seus ideias.
E no final uma escolha. A cura do Mundo, ou a cura de Wong?
Da Franziskaner ainda resta um último gole, para refletir sobre a HQ que acabei de ler.
Eu gosto quando assuntos morais são debatidos em histórias de super-heróis. É muito bonito ver nossos ídolos em dilemas que envolve amor, afeto, escolhas.
Conclusão
HQ do Mestre supremo das artes místicas e cerveja cuja receita foi desenvolvida por monges e que se mantém a tradição por mais de 600 anos. Ambos são incríveis, mas juntas não me animou tanto. Acho que para Doutor Estranho, alguma cerveja belga cairia melhor. Cujo sabor é mais marcante e o teor alcoólico mais pronunciado.
E Para uma cerveja de trigo, uma HQ menos fantástica seria uma ótima companhia, para ser degustada devagar, assim como a cerveja.