Valeu a pena ler 1Q84

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Em 2013 eu escrevia um post a respeito de um estranho livro chamado 1Q84. Era o primeiro livro de uma trilogia escrita por Haruki Murakami.

Três anos depois, finalmente cheguei ao fim dessa história.

A minha empolgação se deu logo nas primeiras páginas, quando fui apresentado à um mundo realista com sutis elementos fantásticos.

No decorrer da trama, Murakami fez questão de inserir mais desses elementos e assim me cativar. Aquilo me causou um estado de curiosidade muito grande e eu precisava ver a conclusão daquilo tudo.

A descida (e permanência) no estranho mundo de 1Q84

Com um clima de Alice no País das Maravilhas, acompanhamos Aomame, nossa protagonista, descer de um taxi em pleno viaduto por não querer esperar o trânsito diminuir. Ali ela encontra uma escada de incêndio e decide descer. A partir dali, entramos em um mundo com nuances diferentes e estranhos.

Quando digo estranhos, falo de duas luas no céu, de pequenas criaturas que saem da boca de uma cabra morta, de criaturas capazes de criar uma estranha crisálida de ar, de cobradores de taxa de TV (que não existem, ou existem), de um culto religioso que executa cultos com elementos sexuais para satisfazer o Povo Pequenino.

Sim, há muita bizarrice nesse mundo de 1Q84.

Pequenas motivações?

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Porém, no decorrer da leitura do segundo volume você percebe que o livro não trata os elementos fantásticos em primeiro plano. Ele fica em segundo plano e às vezes é relegado à um esquecimento.

O autor foca na relação pessoal entre os personagens e ouso a dizer que o foco as vezes é mostrar a relação dos personagens com si mesmos, algo que não se vê todos os dias em livros.

Você percebe que os personagens são fechados em si mesmos e talvez isso seja reflexo da cultura oriental. Percebi também que os personagens tem motivações muito diferentes daquelas que estamos acostumados a ter .

São motivações pequenas (num primeiro olhar), porém acompanhando as angústias e desejos dos personagens pelo decorrer da trama, você acaba entendendo que não é uma motivação pequena, mas sim uma motivação essencial para continuar vivendo.

Ao ler sobre personagens tão reais e tão fascinantes de 1Q84, percebi que a cultura oriental alem de prezar pelos detalhes dos objetos, também preza pelos detalhes no campo afetivo e motivacional.

A monotonia de 1Q84

Murakami sabe como ninguém te colocar dentro de uma monotonia e/ou rotina do dia-a-dia e isso ser algo divertido. O livro tem várias passagens assim. Você sente que o tempo custa a passar para os personagens, e você sente a mesmo demora ao avançar no livro. O ritmo da trama é lento e deixa para trás aquele ritmo frenético que pouco antes da morte do líder religioso. Sendo assim,  a leitura também se arrasta em alguns momentos.

Murakami escreve bem e tem o dom de inserir “livros” dentro de seu livro.

Os personagens lêem muito dentro da trama e fazem paralelos com o que estão passando. Imaginem se esse fato não atiça minha curiosidade para ler os livros ali citados? (Não sei se conseguirei ler Proust, talvez eu tente mais para frente).

Pontos negativos

Porém, me incomodei com algumas coisas na conclusão da historia de Tengo e Aomame. Eu fiquei fascinado pelos elementos fantásticos dentro dessa história de amor de Murakami, mas esses elementos não foram explicados e duvido que exista uma explicação. isso me frustrou.

Concordo que não é necessário que um autor explique tudo o que coloca em sua história, porém Murakami se apoiou muito no misticismo e nas maluquices desse “mundo diferente” e isso faz com que haja a necessidade de concluir tudo o que foi apresentado.

Há algumas explicações corridas nos últimos capítulos, como a explicação do que é dohta e maza, mas que me pareceu muito jogado e não serviu para aplacar minha curiosidade.

Outro ponto negativo são alguns diálogos, que soam muito repetitivos e trava ainda mais o ritmo lendo desse terceiro volume.

Acredito que há muitos diálogos e pensamentos pessoais que replicam informações que já temos e que não servem para nos passar o sentimento de marasmo ou rotina. Na verdade a repetição me fazia perder a concentração e eu me via pensando em coisas fora do livro.

Pontos Positivos

A problema com a repetição é bem pequeno. São poucos os momentos em que temos isso, pois a maior parte do livro apresenta uma narrativa cativante que torna interessante qualquer rotina, seja ela rotina de exercícios físicos pela manhã, a preparação de um jantar frugal ou o sexo casual de um casal.

Ao final temos a resolução de uma história de amor que nasceu lá atrás, no jardim da infância. Um romance que brotou após um simples toque de pele. Duas crianças que sofriam pelas escolhas dos pais e que encontraram conforto ao segurar a mão um do outro. E foi esse sentimento que os guiaram em um mundo estranho e ao fim os reuniram novamente, depois de tanto tempo.

Conclusão

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Há motivos para amar e para detestar 1Q84. E isso é o que mais me agradou na leitura.

Leiam pois vale a pena ler 1Q84.

O amor desenvolvido por Aomame e Tengo conectou um com o outro por todos anos que se passaram, mesmo nunca mais tendo se visto. As barreiras emocionais que ambos desenvolveram por causa da infância difícil reflete por toda a trama e governam o modo como ambos se comunicam com a sociedade é profundo o bastante para termos uma grnade trama.

Agora, reúna esse estranho amor à ideia de duas luas no céu, de um Povo Pequenino que entra em nosso mundo através de cadáveres, um líder de uma seita religiosa que realiza cultos sexuais, uma mulher milionária que abriga outras mulheres vítimas de abuso dos maridos, um segurança gay que fala bem pouco mas traz no olhar anos de experiência (o que me leva a crer que esse cara foi e é um tremendo assassino profissional) um investigador horrível que parece ter um sexto sentido para ligar os pontos em suas investigações.

Murakami nos traz o comum embrulhado no fantástico. E se esse fantástico não foi resolvido e isso me incomodou, confesso que o “comum” me fascinou.

Talvez Murakami tenha conseguido me convencer a ler sua obra justamente por causa do misticismo apresentado lá no início e me apresentou uma trama muito mais real do que eu podia imaginar. Ele me mostrou que a vida real pode ser bem empolgante como qualquer fantasia.

Realmente uma trilogia diferente de tudo que já li, que exigiu paciência em alguns momentos entre o segundo e terceiro volume, mas que continuou me cativando a cada capítulo, seja de Aomame, Tengo ou Ushikawa.

Eu sempre indicarei essa trilogia por achar que todo leitor deve passar por essa trama. Há elementos capazes de agradar o mais variados tipos de leitores, e isso é bem difícil encontrar.

E você já leu? O que achou?

Nota – nota 4 

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