E parece que Martin realmente quer que seu próprio nome fique gravado entre os nomes dos grandes escritores de literatura fantástica.

Escrita por Elio M. Garcia Jr e Linda Antonsson (ambos do site westeros.org e amigos de Martin) e G. R. R. Martin, O Mundo de Gelo e Fogo é mais uma obra épica lançada.

Esse projeto ambicioso traz a promessa de criar bases e fundações tão sólidas que perpetuará no inconsciente dos fãs para sempre este o mundo criado por G.R.R.Martin, assim como a Terra-Média está no inconsciente dos fãs por tantos anos.

Já a minha ideia é bem mais humilde e menor. irei criar uma série de posts para tratar sobre essa obra. Espero conseguir mostrar um pouco dela para vocês, e mostrar que vale a pena ler e compra essa obra-prima.

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Post por Capítulos

Como o livro é muito grande (são 326 páginas) e eu não consigo me segurar e comentar sobre ele apenas quando eu terminasse de ler, decidi que vou abordar o livro por capítulos.

Sendo assim, nesse post falarei sobre O Mundo de Gelo e Fogo como um todo e depois abordarei o primeiro capítulo.

Acredito que isso ajudará tanto aqueles que estão na dúvida se devem ou não investir suas economias nesta obra, quanto aqueles que já leram o primeiro capítulo e agora buscam um espaço para discussões.

E depois, abordarei outros capítulos, pois com certeza haverá informações que poderemos utilizar para teorizar, quem sabe, sobre o futuro de As Crônicas.

Qualidade do Livro e das ilustrações

Assim como vimos em O Dragão de Gelo, e nas novas edições com capas exclusivas da Saraiva, mais uma vez a Editora Leya nos trouxe um material com uma qualidade excepcional.

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O livro tem dimensões grandes, é capa dura e traz uma arte de capa em relevo sensacional. Não se vê muitos livros tão bem feitos ultimamente. Arrisco que esse é o livro mais bonito que alguma editora brasileira lançou nos últimos anos.

Ver um dos meus autores favoritos ser tratado dessa forma pela editora, só me faz querer agradecer.

Eu gostei da qualidade interna do livro também. É uma gramatura de papel alta que dá uma imponência ainda maior para o livro.

Sobre a arte interna do livro, (as ilustrações, mais especificamente) posso dizer que muitos desenhos lembram quadros antigos, trazendo aquela sensação real de estarmos lendo um livro de história. Não temos nada de desenhos estilizados ou que lembre super-heróis.

São ilustrações com aquele ar de Era Vitoriana, retratando os Reis Targaryen, e os principais locais de Westeros e Essos com perfeição.

Uma dica que eu acho interessante dar é que, por mais bonito que o livro fique, na posição vertical, a longo prazo isso pode trazer um descolamento da lombada.

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Não é culpa da qualidade, que como eu já disse, é ótima. Acontece que a culpa é da física mesmo. Ficando assim por muito tempo, o miolo do livro tende a ceder. Então, eu aconselho a acomodar o livro na posição horizontal.

A sensação ao ler esse livro é única. Pode parecer bobeira, mas você se sente um Meistre pesquisando fragmentos antigos de histórias de Westeros e Essos nesse livro enorme.

Em resumo… Vale cada centavo investido.

O que O Mundo de Gelo e Fogo nos traz?

Nos traz (quase) tudo o que gostaríamos de saber e não tinhamos para quem perguntar sobre Westeros e Essos e outros locais desconhecidos.

O livro é “uma obra escrita por Meistre Yandel” que tem como objetivo reunir lendas, histórias e trabalhos de outros meistres e criar um compilado para presentear o rei.

O fato interessante é que a primeira página traz uma dedicatória ao Rei Tommen, Primeiro de Seu Nome, Rei dos Andalos, dos Roinares e dos Primeiros Homens, Senhor dos Sete Reinos e Protetor do Território.

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Mas se vocês prestarem bem atenção, o nome Joffrey foi apagado, e o nome Tommen foi escrito por cima. Esse pequeno detalhe já faz você entrar no clima do livro.

Depois da introdução, onde Yandel explica o porquê resolveu escrever tal livro, temos o primeiro capítulo.

Capítulo I – A História Antiga

O primeiro capítulo trata sobre a História Antiga.

Ali poderemos ver relatos sobre A Era da Aurora, A Chegada dos Primeiros Homens, A Era dos Heróis, A Longa Noite, A Ascensão de Valíria, Os Filhos de Valíria, A Chegada dos Andalos, Dez Mil Navios, e a Perdição de Valíria.

IMG_5129Todos esses eventos são citados em As Crônicas de Gelo e Fogo, mas são poucas as fontes que nos trazem informações precisas sobre esse período.

temos alguns fragmentos de histórias são tratados nos capítulos de Sam quando ele passa a estudar na biblioteca da Muralha. Outras parcas informações vem dos Meistres espalhados pela trama. Sabemos ainda, que na Cidadela há muita informação também, mas é a nossa querida e fofa Velha Ama que nos traz a maior quantidade de histórias sobre o período da História Antiga.

Quem quiser relembrar essas histórias, eu convido a clicar nos links abaixo. Eu fiz, há um tempo atrás, um compilado dessas histórias por ordem geográfica. Quem quiser relembrar é só clicar:

Histórias da Velha Ama parte I

Histórias da Velha Ama parte II

Histórias da Velha Ama parte III

Acho interessante ver a visão dela sobre o assunto, e depois se debruçar em O Mundo de Gelo e Fogo e comparar as informações.

Pequenas notas no livro

Achei interessante ver pequenas notas que dão informações complementares e tornam a experiência ainda mais completa. Não vou falar muito para não estragar a surpresa.

Há, por exemplo, um pequeno comentário citando uma carta de Mesitre Aemon relatando histórias de um patrulheiro que lutou contra gigantes e negociou com filhos da floresta.

Objetivo da obra

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O objetivo desse livro é criar um passado mais robusto para o mundo criado por Martin.

Confesso que até onde li (passei a madrugada lendo esse primeiro capítulo com extremo cuidado) percebi que a História Antiga é tão antiga que carece de informações exatas. Em vários momentos veremos duas ou três linhas de raciocínio sobre o mesmo tema.

Podemos ver, quando ele trata sobre os troca-peles que há informações que não são confirmadas, mas vimos que Bran nos provou ser possível.

A mesma coisa acontece nas suposições sobre os gigantes e os filhos da floresta.

Concluo que G. R. R. Martin não criou uma obra para ser considerada O Silmarillion de Westeros. Não. Ele decidiu seguir em outra direção.

Ele nos mostra um compilado de estudos.

Uma reunião de suposições e pesquisas de antigos meistres que estudaram ou ouviram histórias.

Ou seja, ele teve a sensibilidade de deixar algumas coisas ainda obscuras ou dúbias, quando tratou sobre fatos e acontecimentos datados de milhares de anos atrás.

Achei bem interessante essa abordagem de Martin.

Há poucas informações que podem jogar uma luz nas teorias que discutimos até hoje. Mas só pela imagem que mostra a construção da Muralha, já temo que a teoria do Dragão de Gelo não vai se concretizar. (gostava tanto dela).

Gigantes carregando blocos de gelo de uma lado ao outro. Homens com maquinário para auxiliar no transporte dos blocos, etc.

Mas quem sabe ainda há esperanças da teoria estar correta? rsrs

Quem quiser ver a teoria que estou citando, clique aqui.

E agora minha Vigilia começa…

Sobre cada item do primeiro capítulo, farei um apanhado de curiosidades ou de informações interessantes, para que vocês vejam como o livro é necessário na coleção de todo fã de G.R.R.Martin.

Ou seja, vale muito a pena comprar e ler esse livro.

 A Era da Aurora

Aqui os relatos falam sobre os gigantes e os filhos da floresta. Fala sobre o contato dessas duas raças, e também o contato com Brandon (o Construtor) Stark.

Há menção, ainda que bem superficial, sobre os sacrifícios do povo do Norte.

Lembram que Bran viu algo parecido ao trocar de pele com um represeiro?

Pena que essas informações passa muito longe de algo mais específico.

Se eu desanimei por achar que a teoria do dragão de gelo, pode não se concretizar, por outro lado me animei ao ver que existem elementos que complementam e comprovam outras teorias.

Quando fiz meu post Troca-Peles e Wargs eu havia dito que nem todo troca-pele é warg, mas todo warg é troca-pele.

Warg é a denominação para citar troca-peles que conseguem trocar de pele com lobos.

E em O Mundo de Gelo e Fogo, essa informação é confirmada.

Mas todas as histórias concordam que os troca-peles mais comuns eram homens que controlavam lobos – e até lobos-gigantes -, os quais tinham um nome especial entre os selvagens: wargs. O Mundo de Gelo e Fogo, História Antiga, A Era da Aurora – página 06.

Há uma rápida menção também sobre a relação entre os filhos da floresta, os corvos, e habilidade dessas aves em levar as mensagens pelos reinos.

Eu achei esse capítulo um pouco superficial, mas não podia ser diferente, pois se levarmos em consideração que as informações foram compiladas por meistres, entendemos o porquê da informação ser passada dessa forma.

Brynden, em A Dança dos Dragões, acaba explicando de uma forma mais profunda para Bran. Mas é interessante ver como os homens cultos encaram essas lendas e superstições.

A Chegada dos Primeiros Homens

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Aqui há um relato breve sobre o contato dos Primeiros Homens com os Filhos da Floresta, e uma cena ilustrada, ricamente detalhada, que mostra oPacto entre esses dois povos.

É falado sobre os repressivos esculpidos e sobre a guerra entre esses dois povos, que durou gerações.

A Era dos Heróis

Esse tema foi tratado de forma bem rápida. Essa Era durou milhares de anos. Aqui há algumas menções a respeito de lendas que atravessaram os tempos e acabaram se mesclando a outra.

Por exemplo… Serwyn do Escudo Espelhado, viveu na Era dos Heróis, mas é citado como membro da Guarda Real. isso não tem cabimento, uma vez que a guarda Real surgiu muitos anos depois.

Ele brinca com esses elementos, e essa mescla de lendas entre as eras. Seria isso o que veremos nas lendas de Azor Ahai? Quem sabe…

A Longa Noite

Esse é mais um texto relativamente curto, que fala sobre A Longa Noite, e aumenta o alcance da lenda.

Se os Primeiros Homens falam sobre a Longa Noite, cujo inverno durou uma geração inteira, há também relatos sobre uma escuridão que fez Roine diminuir e as águas congelarem. Aqui há menção de Asshai e sobre um certo herói chamado Azor Ahai.

Essa ligação é bem interessante. Nos mostra que essa lenda  é antiga. E dá forças à fé de Melissandre.

Vale muito a pena ler. Percebam que Martin aumenta o alcance da lenda, e outras civilizações citam lendas diferentes, mas cujo cerne são parecidas coma do lendário Azor Ahai.

Muito do que a Velha Ama contava para as crianças Stark aparecem novamente aqui. O que dá mais força para as histórias da velhinha.

A Ascensão de Valíria

Valíria e sua ascensão

Valíria e sua ascensão

Aqui podemos ver alguma luz jogada sobre o assunto A Origem dos Dragões. Nos livros de As Crônicas, há menção de que os dragões vieram de Asshai.

Mas aqui, em O Mundo de Gelo e Fogo há menção de outras lendas, e os próprios valirianos afirmam que os dragões surgiram das Quatorze Chamas. Mas o fato que, até então, parece inquestionável é que foram os vagiríamos que os domaram pela primeira vez.

Gostei das informações que Martin nos deu aqui.

Os Filhos de Valíria

Aqui podemos ver um pouco mais sobre Valíria e seu crescimento estrondoso, e consequente expansão territorial.

E olha que não estamos falando da conquista de Westeros. Esse é provavelmente o capítulo que mais gostei, e que trouxe informações, até então desconhecidas.

Fala um pouco sobre o misterioso aço valiriano.

A Chegada dos Ândalos

Pouco sabíamos sobre os Ândalos e sobre as motivações que os levaram a desembarcar em Westeros.

Podemos entender agora cronologicamente. Temos uma nova informação. O crescimento de Valíria e a decisão dos Ândalos em fugir ao invés de enfrentar os senhores dragões.

Percebam que Martin começa a colocar problemas políticos, guerras expansionistas, e outros elementos para que tudo faça mais sentido.

Ele já faz isso em As Crônicas, e agora podemos ver isso no passado dos povos. Há relatos interessantes sobre reis vândalos enfrentando senhores descendentes dos Primeiros Homens em Westeros.

Uma curiosidade: Parece que o Tridente é um local ideal para grandes e importantes confrontos. Leiam e entenderão o que estou dizendo.

Foram os ândalos que trouxeram a Fé dos Sete, e podemos ver um pouco da origem do orgulho do Norte, e do por que ainda cultuam os antigos Deuses. Esse capítulo deixam muitas coisas mais claras.

No mais antigo dos livros sagrados, Estrela de Sete Pontas, dizem que os Sete andavam pessoalmente entre seu povo nas colinas de Ândalos, e foram eles que coroaram Hugor da Colina e prometeram a ele e a seus descendentes grandes reinos em terra estrangeira.

O Mundo de Gelo e Fogo – A Chegada dos Ândalos, página 17

Quando estava transcrevendo essa passagem me lembrei de uma coisa sensacional. Hugo da Colina (Hugor of the Hill no original em inglês) me lembrei do nome que Tyrion adotou ao fugir de Westeros. Hugo Hill.  Gostei muito da referência e tive vontade de voltar a ler os POV de Tyrion seguindo ao encontro de Daenerys.

Dez Mil Navios

Esse é o maior relato do primeiro capítulo.

Podemos saber um pouco mais sobre Nymeria e seus dez mil navios. um assunto que sempre tive curiosidade, e depois de ler, percebo que valeu a pena ter esperado esse relato.

As lendas nos contam que Nymeria levou dez mil navios para o mar, na busca de um novo lar para seu povo, fora do longo alcance de Valíria e seus senhores dos dragões. O Mundo de Gelo e Fogo – Dez Mil Navios, página 23

Nymeria e seus Dez Mil Navios

Nymeria e seus Dez Mil Navios

Fala também um pouco mais sobre as mulheres guerreiras, segundo a tradição Roinar, e isso traz um pano de fundo para o papel das mulheres em Dorne, por que foi lá que Nymeria desembarcou.

Dizem que, entre os roinares que chegaram Dorne com Nymeria, oito em cada dez eram mulheres… mas um quarto delas eram guerreiras, segundo a tradição ronair, e mesmo as que não lutavam haviam endurecido durante as viagens e angústias que enfrentaram. O Mundo de Gelo e Fogo – Dez Mil Navios, p-agina 25

Assim Martin começa a demarcar o passado de Westeros.

As influências que atingiram os povos atuais, e algumas explicações comportamentais fazem muito mais sentido.

Se Nymeria de Arya tiver um terço da coragem de Nymeria dos Roinares, os inimigos de da pequena Stark se arrependerão de cruzar seu caminho.

Indico essa como a melhor leitura do capítulo A História Antiga.

Perdição de Valíria

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Aqui temos o fim da era dos dragões em Essos.

Aqui Martin expande a aparição dos Targaryen em Westeros. Até então, em As Cronicas de Gelo e Fogo, poucas informações haviam sobre eles antes da Conquista e apenas algumas passagens dos livros que levavam a crer que Aegon desembarcou com suas irmãs em Westeros e apenas para conquistar os reinos.

Podemos ver aqui que há relatos anteriores que confirmam que muitos westerosi já haviam visto um senhor dos dragões sobrevoando o Água Negra.

Aqui diz que Pedra do Dragão foi fundada 200 anos antes da perdição de Valíria.

Uma informação que não tinhamos em As Crônicas. Por isso digo que apenas Martin expandiu a história Targaryen em Westeros.

Possivelmente encontraremos contradições entre essa obra as Crônicas, mas contradições que serão “culpa” dos meistres da época.

Se alguns entendem que isso não é uma expansão, ao menos terá que concordar que Martin jogou muita luz nesse assunto, que até então era obscuro e de difícil entendimento.

Assim, mostra que westerosi tiveram contato, ou souberam da existência dos Targaryen muito antes do Desembarque de Aegon.

É triste ver como se deu a Perdição e a queda de um império tão glorioso.

Esse é outro capítulo interessante.

Conclusão

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O livro é item obrigatório para todo fã de G.R.R. Martin. Essa obra traz um passado às obras já publicadas. Cria um universo ficcional com bastante coesão. Tudo o que os fãs mereciam.

E ainda por cima, traz isso de uma forma inteligente e que convence.

Um meistre compilando histórias.

Evolução do livro

É possível perceber que à medida em que o livro começa a tratar fatos recentes, as informações passam a ser mais substanciais.

As informações contidas em Dez Mil Navios e a Perdição de Valíria conseguem demostrar isso que estou dizendo, ao compararmos elas com A Era da Aurora e A Longa Noite por exemplo.

Gostei muito do início do livro e pelo visto, a obra como um todo promete ser espetacular.

Estou extremamente ansioso para ler o próximo capítulo. E vocês o que acharam?

No próximo post tratarei o segundo capítulo…o Reinado dos Dragões e com ele mais sobre a história dos tragarem mais importantes de Westeros.

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