A Música do Silêncio, Auri e As Portas de Pedra – Parte I

Estavam com saudades de Kvothe? Hoje vamos falar sobre ele e sobre Auri!

― Continuo sem entender os nomes. [disse Kvothe]
[…]
― Usar palavras para falar de palavras é como alguém usar um lápis para desenhar uma imagem dele mesmo nele mesmo. Impossível. Confuso. Frustrante. O Nome do Vento, capítulo 86 – O Fogo em Si.

O retorno do Drunkwookie é coroado com uma resenha/teoria relacionada à obra de Patrick Rothfuss!

Bem-vindos novamente ao universo de A Crônica do Matador do Rei, pois enquanto não temos nenhum sopro favorável em relação a Os Ventos do Inverno, é sobre Kvothe e Auri que iremos falar.

Nos último mês, venho lendo vários outros livros e me surpreendendo com as leituras. Atualmente estou lendo A Torre Negra de Stephen King e Elric de Melniboné: A Traição ao Imperador (Livro I) de Michael Moorcock. Terminei recentemente Mistborn: o Herói das Eras  de Brandon Sanderson e A Música do Silêncio de Patrick Rothfuss.

E, ao ler algo de Rothfuss é impossível não elogiar sua narrativa e criar teorias que envolvem Kvothe, seus amigos e as misteriosas portas de pedra.

Por isso, cá estou para conversar sobre Auri e sua importância na vida de Kvothe.

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Aqui no Drunkwookie você pode encontrar resenhas e teorias sobre o que esperar de As Portas de Pedra.

Vale a pena ler “A Crônica do Matador do Rei”

O que esperar de “As Portas de Pedra”? – Parte I

O que esperar de “As Portas de Pedra”? – Parte II

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Teoria exatamente sobre o que?

Você deve estar se perguntando que, se ainda falta o último livro e eu havia dito que as teorias na minha cabeça já haviam sido todas escritas, porque estamos falando dessa série novamente?

Inicialmente, esse post era uma simples resenha sobre A Música do Silêncio.

Eu havia abandonado a leitura desse livro em 2015. Entretanto, como disse naquela ocasião, o abandono não era eterno. Eu voltaria a lê-lo quando estivesse empolgado novamente com esse mundo criado por Rothfuss.

A empolgação bateu, li e para minha surpresa, além de achar o livro extremamente delicado e divertido (a sua maneira), consegui traçar alguns paralelos com A Crônica do Matador do Rei.

Por isso, decidi fazer um post (que acabou se desdobrando em dois posts) sobre ligações com os livros O Nome do Vento e O Temor do Sábio e falar um pouco das evidências que encontrei no decorrer da leitura, para afirmar que o papel no final da trama, será de grande importância.

Acredito que dessa forma, também consegui resenhar o livro de certa forma.

A Música do Silêncio

Publicação – 2014

Editora – Arqueiro

Páginas – 127

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Sinopse –

Debaixo da Universidade, bem lá no fundo, há um lugar escuro. Poucas pessoas sabem de sua existência, uma rede descontínua de antigas passagens e cômodos abandonados. Ali, bem no meio desse local esquecido, situado no coração dos Subterrâneos, vive uma jovem. Seu nome é Auri, e ela é cheia de mistérios.

A música do silêncio é um recorte breve e agridoce de sua vida, uma pequena aventura só dela. Ao mesmo tempo alegre e inquietante, esta história nos oferece a oportunidade de enxergar o mundo pelos olhos de Auri. E nos dá a chance de conhecer algumas coisas que só ela sabe…

Um Lugar Aprazível Bem Incomum

Esse título se refere ao capitulo 4 do livro, porém acho que ele serve perfeitamente para nomearmos (guarde essa palavra) esse conto ímpar escrito por Patrick Rothfuss.

Como havia falado em 2015 o livro é peculiar, único e precioso. Digo disso porque é um livro que o próprio autor alerta no prefácio.

Ele diz que talvez você não queira compra aquele livro. Esse livro é um livro de autor. Aquele livro, ou conto, ou história que o autor faz para si mesmo ou precisa por pra fora, para seguir em frente. E que talvez, agradará uma pequena parcela de leitores.

Nas palavras de Rothfuss,

Esta [história] é para todas as pessoas meio abatidas que existem por aí. Sou um de vocês. Vocês não estão sozinhas. São todas lindas para mim.

Só por isso, você percebe (ou deveria perceber), que tem em mãos um livro diferente. E se a proposta é ser um livro diferente, bem… Ele cumpre o papel perfeitamente.

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O livro traz o dia-a-dia de Auri, que se esconde no Subterrâneo da Universidade, longe de tudo e de todos. A primeira vista, imaginamos que ela estará sozinha, porém não é isso que vemos pelas 127 páginas de história.

A garota tem apenas 7 dias para preparar-se até o próximo encontro com Kvothe.

Ela percorre os locais escondidos debaixo da Universidade, em busca de presentes para seu amigo. Nesses 7 dias, acompanhamos a menina por todos obscuros e estranhos lugares do Subterrâneo. E assim, conhecemos um pouco melhor Auri, sua mente que beira a sinestesia. Uma mente modeladora e nomeadora, capaz de fazer você se afeiçoar à objetos simples.

Esse conto nos faz ver o mundo por outro olhar. De uma nova forma.

Auri tem uma forma tão peculiar de ver o mundo e de interagir com ele que faz com que a leitura seja uma surpresa agradável, ao menos no início.

O que há por trás do peculiar jeitinho de Auri?

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Auri age de forma bem diferente. Isso é inegável.

Ela tem uma espécie de TOC, ou melhor dizendo, ela tem um jeito único de viver.

Ela se move, pensa, age e interage de forma diferente da maioria das pessoas, dando importância a coisas que normalmente nós não nos importaríamos.

Mas se pararmos para pensar, será que nunca fizemos algo parecido?

Quem nunca, na infância ao menos, deu tanto valor à um brinquedo, pedaço de papel, anel ou lápis, e não ficou na dúvida se determinada atitude não poderia machucar os sentimentos do objeto?

Eu tinha muita dó de jogar, deliberadamente, um lápis velho fora. Eu tinha uma espécie de pena. Talvez, por achar que aquele lapizinho ia ficar triste em um lixo da escola. Então, eu acabava guardando-os.

Todo mundo já passou por isso. Eu acredito. Não? Ninguém? Por favor, alguém que já sentiu isso, comente nesse post. Para não ficar muito feio para mim.

Voltando ao post

Por viver sozinha, Auri acaba direcionando suas emoções à objetos inanimados e os tratam de maneira única.

Eu acho isso lindo de testemunhar.

“Era uma engrenagem brilhante de bronze, grande como uma bandeja. Muito mais grossa que seu polegar. Tinha um furo no meio, nove dentes e uma lacuna irregular, de onde o décimo dente fora arrancado muito tempo antes. Estava cheia de respostas verdadeiras e de amor e luz de lareira. Era linda.” A Música do Silêncio

Auri, por todo o livro adjetiva tais objetos, lhes confere virtudes e características de personalidade, tornando cada um deles único.

Se muitos vêem isso como algo cansativo, eu confesso que na primeira leitura vi assim. Porém, quando reli, acabei vendo um pouco mais.

Vi coisas importantes, talvez até  importantes para a trama de Kvothe.

Auri e os nomes. A arte de Nomear

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Manto. Porto. Rubrica. Carreta. Decúria. Passa-Fundo. Doze Amarelo. Saltos. Casa das Trevas.

Todos esses são nomes de locais em que Auri perambula nos Subterrâneos. Para a menina cada um deles tem um temperamento, um jeito de se portar e regras a serem seguidas ao adentrar-se em cada um.

Os nomes são importantes para a garota, conforme podemos perceber no decorrer da trama:

Foi terrivelmente empolgante. O lugar era ardiloso como um latoeiro ébrio, e um tantinho sonso. E tinha o gênio forte. Seria difícil achar um lugar mais diferente de uma alameda de jardim.

Alguns locais tinham nomes. Alguns os mudavam, ou eram tímidos a respeito deles. Havia os que não tinham nome, e isso era sempre triste. Uma coisa era ser reservado. Mas não ter nome? Que horror! Que solidão! – A Música do Silêncio.

A menina entende o nome de cada local. Nomeia objeto.

― Mas Taborlin sabia os nomes de todas as coisas ― prosseguiu ―, de modo que todas as coisas estavam sob o seu comando. – O Nome do Vento.

Sabemos que saber nomear as coisas é extremamente confuso e complicado. Kvothe conseguiu chamar o nome do vento algumas vezes mas não fazia noção de como o fez.

E se achamos que Auri age de forma estranha, confusa ou até mesmo entediante, é necessário lembrarmos do que Elodin diz sobre saber nomear.

― Continuo sem entender os nomes.
― Eu lhe ensinarei a entendê-los ― disse ele, descontraído. ― A natureza dos nomes não pode ser descrita, apenas vivenciada e compreendida.
― Por que não pode ser descrita? Quando alguém compreende uma coisa, é capaz de descrevê-la.
― Você sabe descrever todas as coisas que compreende? ― perguntou ele, olhando-me de soslaio.
― É claro.
Elodin apontou alguém na rua:
― De que cor é a camisa daquele menino?
― Azul.
― O que quer dizer com azul? Descreva-o.
Esforcei-me por um momento, não consegui.
― Então azul é um nome?
― É uma palavra. As palavras são pálidas sombras de nomes esquecidos. Assim como os nomes têm poder, as palavras têm poder. […]
― Ainda não compreendo.

Ele pôs a mão em meu ombro:
― Usar palavras para falar de palavras é como alguém usar um lápis para desenhar uma imagem dele mesmo nele mesmo. Impossível. Confuso. Frustrante. ― Elodin ergueu as mãos para o alto, como se tentasse alcançar o céu.

― Mas há outras maneiras de compreender! ― gritou, rindo feito criança. Tornou a levantar os dois braços para o arco de céu sem nuvens acima de nós, ainda rindo. – O Nome do Vento, capítulo 86 – O Fogo em Si.

Sendo assim, esse jeitinho diferente de Auri, quer dizer algo.

Essa coisa de tratar objetos como se tivesse consciência e, solenemente, tratar as coisas pelo nome, me intriga.

Me intriga e me leva a questionar se essa atitude de Auri não é fruto do conhecimento que conseguiu reunir, nos anos em que estudou na Universidade, antes de ser expulsa.

Por todo livro, percebemos que a garota tem um conhecimento bem abrangente, conseguido na Universidade.

Havia maneiras de eliminar essas coisas. Auri conhecia todas. Conhecia os círculos giratórios do calcinado. Sabia sublimar e extrair. Sabia isolar um princípio não excludente tão bem quanto qualquer um que já se houvesse dedicado ao exercício da arte. – A Musica do Silêncio

Seria ela uma nomeadora?

Alguém que aprendeu a dominar o nome das coisas? Se for isso, porque ela abandonou seus estudos e fugiu para o Subterrâneo?

Acredito que algo muito ruim aconteceu ao nomear as coisas, e isso fez a menina se afastar. É possível perceber por todo o desenrolar de A Música do Silêncio, que Auri se nega a tirar coisas do lugar, de forma desordenada. É preciso fazer sentido para ela. É algo que deve se encaixar, antes de ser feito. Isso me mostra um medo. medo de algo que ela já testemunhou.

Auri e suas diversas fases, assim como a LuaScreen-Shot-2014-10-29-at-14.09.52

Ao abrir os olhos, Auri viu uma nesga de luz. Coisa rara, já que estava bem escondidinha no Manto, o mais íntimo dos seus lugares. Era um dia branco, portanto. Um dia profundo. Dia de achar. Ela sorriu, com o peito efervescendo de animação. – A Música do Silêncio.

Em dias como esses, Auri é uma garota alegre, determinada, segura. Porém, há dias em que ela não está bem, se sente insegura, se sente pequena.

Percebemos isso desde o momento em que ela acorda e vemos seu pessimismo no modo como anda, age e percebe tudo ao seu redor.

Mas existem diversos outros dias, como o dia de produzir.

“Foxen sentiu o mesmo e explodiu completamente em luz quando ela o molhou pela primeira vez. Era um dia de crescer. Dia de produzir.”

Por isso acho muito difícil não conectar Auri com a Lua.

As fases do humor da garota, me remetem às fases da Lua. Lembram que em O Nome  do Vento, Auri não gosta de aparecer quando a lua está aparecendo?

― Auri! ― chamei. Você está aí?
― Você está atrasado ― veio a resposta vagamente petulante.
― Desculpe. Hoje você quer subir?
Uma pequena pausa.
― Não. Desça.
― Hoje não tem muita lua ― retruquei, num tom mais encorajador.

― Tem certeza de que não quer subir? – O Nome do Vento.

Em A Música do Silêncio, podemos ver que ela se incomoda com a Lua. Mas às vezes, não.  Seria apenas um cuidado exacerbado para não ser vista na Superfície?

Então chegou ao Topo das Coisas. Dali podia ver tudo, infinitamente. Temerant inteiro estendia-se sob seus pés, interminável. Era tão bonito que ela quase não se importou com a lua. – A Música do Silêncio

Ou teríamos alguma ligação dela com a Lua?

Mas não era hora de rogar favores à lua.

Não naquele momento. – A Música do Silêncio

Se pudermos assumir que ela tem medo da lua, cresce a possibilidade de Auri ter ligação com ela. E se temos ligação com a Lua, temos ligação dela com os Lackless.

E é sobre isso que falarei no próximo post. Continuarei com minhas especulações e  concluirei as minhas ideias. Ainda temos que falar sobre o poder do nome de Auri, a ligação da menina com Kvothe e seu papel no final da trilogia.

Um papel que, na minha opinião, será de extrema importância.

12 Comentário

  1. 31 de janeiro de 2017    

    Ótimo post como sempre. Gostei do livro de primeira, pois sabia o que iria encontrar, ainda mais o próprio autor apresentando o livro de tal maneira! Para um leitor leigo, já vale pelo exercício de estar aprisionado na mente de uma criança autista, mas o livro enriquece a mitologia da personagem e demonstra de maneira simples, como ela é poderosa. Elas simplesmente se comunica com TUDO ao redor. Está tudo vivo ao redor da menina. Isso é incrível. Quanto a ligação dela com a lua, também notei, e penso até mesmo se envolve aquela velha canção do “mascate que roubou a lua”, tem uns 6 anos que li esse livro, mas lembro que tinha uma canção do povo sobre tal fato. Me pergunto se a Auri foi a lua roubada/sequestrada. Abraço!

  2. Tatyanne Vasconcelos Tatyanne Vasconcelos
    1 de fevereiro de 2017    

    Amei esse post! Esperando anciosamente pelo próximo. Achei esse livro encantador e apaixonante ❤ E sobre achar que objetos tem sentimentos: eu costumava embrulhar meus ursinhos de pelúcia por achar que eles sentiam frio. Pois é ??

    • 1 de fevereiro de 2017    

      Eu sabia que não era o único hahahahaha
      Que bom que gostou!
      A conclusão é bem interessante, espero que goste também!

  3. Victor Victor
    1 de fevereiro de 2017    

    Sabe se ja tem previsao pro lançamento do livro 3 (As Portas de Pedra)?

    • 2 de fevereiro de 2017    

      ainda não

      • wil n a wil n a
        6 de abril de 2018    

        o kvouthe ja pronunciou o nome de gris ferula duas vezes, uma quando conta ao cronista no primeiro dia da morte dos pais e outra vez quando fala de ademri e cita o nome dos sete ele fala de novo sobre o ferula, crio que no terceiro dia havera confronto com os sete…

  4. carlos eduardo carlos eduardo
    5 de março de 2017    

    Que bom q está lendo A torre Negra, estou lendo também e gostando muito. Vc vai fazer algum post sobre os livros, ou o que esperar do filme e da serie de tv? ?

    • 5 de março de 2017    

      Farei um post sobre o livro e talvez um sobre o que esperar da série. Porém, ainda sou novato nesse mundo criado por Stephen King. hehehehe

      • carlos eduardo carlos eduardo
        5 de março de 2017    

        Vai fazer ???. Também sou novato nos livros do Stephen King, são os primeiros dele que estou lendo, vou pro Mago e Vidro e vc está em qual livro da Torre?

        • 5 de março de 2017    

          Li apenas o primeiro. Preciso ir para o segundo agora.

  5. 24 de agosto de 2017    

    Gosto desse livro. Se eu não me engano perto do fim do livro da a entender três coisas, ao menos para mim. Um a Auri foi estuprada ou quase e isso quebrou a mente dela. Dois ela era uma alquimista como um dos colegas do Kote. Três ela quer algo mais dele, não apenas uma amizade.

    • wil n a wil n a
      6 de abril de 2018    

      a auri esta meio fora da realidade por causa dos ensinamentos da universidade, tem ate hospicio para estudantes. Os esgotos em que ela vive faz parte de um mundo muito antigo, e atras das portas de pedra esta aprisionado o moldador mais poderoso que deu origem a guerra de criacao, ela demontrou conhecimento em alquimia quando consertou o encanamento que se rompeu, mas nao parece poderosa igual elodin nem ao kvouthe

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