O Silmarillion – Parte I

Quem acompanha o blog sabe que J. R. R. Tolkien é um dos meus autores favoritos. E, de suas obras, O Silmarillion é o livro que mais tenho apreço. Tanto que ele faz parte da minha lista de 10 livros que marcaram minha vida.

Eu sempre apresentei uma certa resistência quando o assunto é “reler livros”, pois sinto que cada livro é também uma representação do momento em que o lemos. Então lembrar da história e do momento vivido.

Porém alguns livros merecem ser relidos, pois extrapolam essa representação temporal e nostálgica e necessitam de novas leituras.

São leituras que servem para me colocar novamente nos eixos.

É o caso (para mim) de Alice No País das Maravilhas, Enterrem Meu Coração na Curva do Rio, O Hobbit, O Silmarillion, e mais alguns outros.

Silmarillion é cansativo, como muitos dizem?

Eu não acho. Na verdade, esse é um dos livros que mais me empolgo ao reler. Todavia, reconheço o fato de que, por muitas vezes, o livro se enverede por caminhos que parecem cansativos e isso pode desestimular a leitura.

Entretanto, o que precisamos ter em mente quando lemos O Silmarillion ou até mesmo Contos Inacabados, é o teor da obra.

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É um livro, em muitos pontos, sem um único personagem ou um objetivo principal. Isso é bem diferente do que estamos acostumados a ver em muitos outros livros. Sendo assim, é necessário olhar o livro por um outro prisma, e isso é difícil.

A proposta do blog – O Silmarillion em capítulos 

Eu sempre gostei de falar sobre O Silmarillion com as pessoas ao meu redor. Entretanto, percebi que muitos nunca leram por achar o livro cansativo.

Por esse fato, resolvi fazer uma resenha detalhada da obra.

A intenção é fazer com que leitores que desistiram da leitura voltem a se interessar, e aqueles que gostaram, relembrem e iniciem uma discussão saudável aqui no blog ou na página no FB.

Por isso farei posts tratando poucos capítulos de cada vez, trazendo aos leitores a essência do Silmarillion, para que possamos discutir a obra de Tolkien de uma forma bem mais intimista.

Uma novidade é que chamei o meu grande amigo Fernando Franco para ilustrar alguns personagens e momentos do Silmarillion (nas poucas horas vagas dele).

Nesse post teremos a representação de Olórin e Melkor.

Curiosidades ao longo dos posts

É interessante saber que Galadriel estava entre os primeiros Elfos que pisaram em Arda. Também é curioso ver Gandalf andando pela Terra-Média, antes mesmo dos Elfos e Homens.

Sim, esses pequenos fatos passam desapercebidos, e tentarei traze-los de uma forma mais aparente.

 O início de tudo…

Nesse primeiro post abordarei o início de tudo. Como o Mundo foi formado, quem o criou, como se deu essa criação e quais embates aconteceram nessa criação.

Os dois capítulos iniciais tratam sobre o mesmo assunto, mas o segundo traz mais informações por que é o relato dos elfos sobre os acontecidos.

Ainulindalë – a Música dos Ainur  

e

Valaquenta – Relato dos Valar e dos Maiar segundo o conhecimento dos eldar

Havia Eru, o Único, que em Arda é chamado de Ilúvatar. Ele criou primeiro os Ainur, os Sagrados, gerados por seu pensamento, e eles lhe faziam companhia antes que tudo o mais fosse criado. E ele lhes falou, propondo-lhes temas musicais; e eles cantaram em sua presença, e ele se alegrou.  O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 03

Eru Iluvatar é o Deus, ou a divindade suprema da obra de Tolkien, responsável pelo início de tudo.

Foi ele quem criou os Ainur com seu pensamento, e juntos criaram o Mundo. A criação do mundo se deu pela música.

É interessante citar que, os Ainur passarão a ser conhecidos por Valar. Mas isso só acontecerá mais para frente, após um evento específico.

Digo isso pois sempre há confusão nas nomenclaturas de Tolkien e é melhor saber com antecedência, para que o entendimento do todo fique mais fácil.

Os Ainur souberam da ideia de Eru assim que ouviram Ele cantando.

Logo, passaram a cantar também. Inicialmente cantaram sozinhos e a medida que entendiam a si próprios e seus irmãos, tornaram-se harmoniosos e consoantes.

No início eles conheciam apenas a si próprios pois cada um havia sido criado a partir de uma parte específica da mente de Eru.

Após esse entendimento de si próprios e consequentemente de seus irmãos, uniram-se.

E de forma harmônica, cantaram juntos. Cantaram e começaram a criar a forma do Mundo.

Essa música ficou conhecida como a Música Magnífica.

Imaginem, seres fantásticos e belos, além de nossa compreensão, juntos, cantando em uníssono e criando a terra.

Cada Ainur passou a demonstrar na música os seus poderes e foram criando e adornado o Mundo.

O tema foi proposto por Eru, mas foram os Ainur que criaram o Mundo. Eru Iluvatar apenas deleitou-se com música criada por eles.

Se pararmos para imaginar como se deu a criação desse Mundo, deve ter sido algo glorioso. 

E então as vozes dos Ainur, semelhantes a harpas e alaúdes, a flautas e trombetas, a violas e órgãos, e a inúmeros coros cantando com palavras, começaram a dar forma ao tema de Ilúvatar, criando uma sinfonia magnífica; e surgiu um som de melodias em eterna mutação, entretecidas em harmonia, as quais, superando a audição, alcançaram as profundezas e as alturas; e as moradas de Ilúvatar encheram-se até transbordar; e a música e o eco da música saíram para o Vazio, e este não estava mais vazio. O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 04

Assim a música criou algo dentro do Vazio. Podemos imaginar então um espaço negro, com algo sendo criado no centro, tomando forma à medida que esses seres cantavam.

A Dissonância na Música

Foi no coração de um dos Ainur, que surgiu uma vontade específica. A vontade de criar coisas próprias. Coisas que não estavam em harmonia com o Tema proposto por Eru.

Esse ainu chamava-se Melkor, conhecido também por Morgoth, que viria a se tornar o primeiro Inimigo, o primeiro Senhor da Escuridão, Senhor de Sauron.

Algo interessante de adiantar sobre Morgoth é que ele viria a se tornar O Senhor do Escuro, Senhor de Sauron, criador dos Balrogs e de toda a raça de Orcs, conforme veremos no decorrer das resenhas.

À Melkor havia…

sido concedidos os maiores dons de poder e conhecimento, e ele ainda tinha um quinhão de todos os dons de seus irmãos.

 

Podemos perceber que cada ainur tinha dons diferenciados, uma vez que cada um deles havia sido feitos de locais diferentes da mente de Eru.

E Melkor, ao que tudo indica, era um ainur um pouco mais poderoso.

Foi esse ainur que passou a incutir seus pensamentos próprios em sua música, causando uma dissonância no tema proposto por Eru.

Eru percebeu essa dissonância por três vezes. e Por três vezes uma guerra sonora foi travada entre eles.

Da primeira vez sorriu e alterou o Tema da Música, que passou a ser diferente, mas não menos belo.

Ainda assim, Melkor continuou impondo sua vontade na Musica e seus irmãos pararam de cantar. A música do ainur poderoso incomodou novamente Eru.

Pela segunda vez, Eru interrompeu a música, dessa vez tinha uma severa expressão.

Um terceiro tema foi proposto pela divindade suprema.

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Duas músicas se distinguiram entre os sons gerados, e houve mais uma batalha sonora. Foi quando as mansões de Iluvatar sacudiram, que Ele se levantou, furioso e deixou clara a sua posição perante todos.

Ilúvatar ergueu-se mais uma vez, e sua expressão era terrível de ver. Ele então levantou as duas mãos, e num acorde, mais profundo que o Abismo, mais alto que o Firmamento, penetrante como a luz do olho de Ilúvatar, a Música cessou.

Eru e sua posição perante seus Ainur

Então, falou Ilúvatar e disse: – Poderosos são os Ainur, e o mais poderoso dentre eles é Melkor; mas, para que ele saiba, e saibam todos os Ainur, que eu sou Ilúvatar, essas melodias que vocês entoaram, irei mostrá-las para que vejam o que fizeram E tu, Melkor, verás que nenhum tema pode ser tocado sem ter em mim sua fonte mais remota, nem ninguém pode alterar a música contra a minha vontade. E aquele que tentar, provará não ser senão meu instrumento na invenção de coisas ainda mais fantásticas, que ele próprio nunca imaginou. O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 04

Depois de se impor, Eru e os Ainur entraram no Vazio para contemplarem o que haviam criado. Melkor começou a criar raiva por Eru, por ter sido envergonhado na frente de seus irmãos.

Podemos perceber que nada pode fugir das mãos de Eru Iluvatar. A fonte da criação mora em Eru. Nada que não estiver de acordo com sua vontade, prosperará.

Contemplem a Música!

Eu considero esse momento, a segunda parte dos desígnios de Eru Iluvatar. Depois da Criação, a divindade suprema chama seus Ainur para contemplar o resultado da Música Magnífica!

 

– Contemplem sua Música! Este é seu repertório. Cada um de vocês encontrará aí, em meio à imagem que lhes apresento, tudo aquilo que pode parecer que ele próprio inventou ou acrescentou. E tu, Melkor, descobrirás todos os pensamentos secretos de tua mente e perceberás que eles são apenas uma parte do todo e subordinados à sua glória. O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 06

 Percebam que todas as alterações invocadas por Melkor estão na Terra. Mas por mera liberalidade de Eru, que talvez entendeu que era necessário que os pensamentos secretos daquele Ainur deveria fazer parte do todo.

Algo interessante para ser dito é que os Ainur olhavam para a Terra recém-criada e, em virtude da lembrança de suas palavras e sua música, viam tudo o que foi, o que é e o que será daquela Terra. Ou quase tudo.

Eru manteve segredos encobertos. A descoberta dos Filhos de Iluvatar

Porém os Ainur não podiam ver tudo o que ali havia. Haviam muitas coisas encobertas pelo próprio Eru, que somente seriam descobertas em cada Era.

Com muita admiração os Aunir testemunharam a chegada dos Filhos de Iluvatar, e perceberam que aquele lugar havia sido feito para servir de morada a esses Filhos.

Os Filhos de Iluvatar não haviam sido idealizados no primeiro Tema. A ideia de inseri-los na Terra, veio com o terceiro Tema.

Logo, podemos ver que foi por causa da intervenção de Melkor que os Elfos foram idealizados e criados por Eru.

Os ainur amaram instantaneamente os Filhos de Iluvatar por que eles eram diferente deles, eram estranhos e livres. Era possível ver a mente de Iluvatar refletida naquelas duas raças.

Os Filhos de Iluvatar são os Elfos e os Homens. Primogênitos são os primeiros, e Sucessores os segundos.

A Terra é vasta demais

A Terra criada é extremamente vasta, mas após verem os Filhos de Iluvatar muitos dos mais poderosos Valar concentraram seu pensamento e desejo no lugar onde Eru colocou seus Filhos.

Desse poderosos que se empenharam em moldar a morada dos Elfos e Homens, o chefe era Melkor.

Percebam que não havia ressentimento por parte de Eru, com a postura de Melkor na Criação da Música Magnifica. Melhor ainda podia agir da forma que bem entendesse, assim como os outros Ainur.

 E em meio a todos os esplendores do Mundo, seus vastos palácios e espaços e seus círculos de fogo, Ilúvatar escolheu um local para habitarem nas Profundezas do Tempo e no meio das estrelas incontáveis. E essa morada poderia parecer insignificante para quem leve em conta apenas a majestade dos Ainur, e não sua terrível perspicácia; e considere toda a área de Arda como o alicerce de uma coluna e a erga até que o cone do seu topo seja mais aguçado que uma agulha; ou contemple somente a vastidão incomensurável do Mundo, que os Ainur ainda estão moldando, não a precisão detalhada com que moldam todas as coisas que ali existem. Mas, quando os Ainur contemplaram essa morada numa visão e viram os Filhos de Ilúvatar surgirem dentro dela, muitos dos mais poderosos dentre eles concentraram todo o seu pensamento e seu desejo nesse lugar. O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 07

Melkor e sua cobiça

Fernando Franco Drunkwookie Melkor

Melkor fingia, até para si mesmo no inicio, que faria de tudo pela bem dos Filhos de Ilúvatar.

Entretanto a inveja e a cobiça o tomou novamente, e ele desejava submeter à própria vontade tanto os elfos quanto os homens por invejar os dons que Ilúvatar porte conceder a esses seus filhos.

Havia também fato de que Melkor queria ser chamado de Senhor e queria ter comando sobre a vontade dos outros.

 Arda e os Ainur

Arda é o nome dado pelos Elfos para a Terra, onde foram inseridos.

Arda era feita de agua, ar, ventos, ferro, pedra, prata, ouro e muitas substâncias.

De todas essas substâncias, diziam que era nos oceanos que ainda vivia o eco da Música dos Ainur, mais do que em qualquer outra substância de Arda.

Eu havia dado noções profundas de Música a Ulmo, que voltou seu pensamento para a água de Arda.

Já Manwë sabia muito sobre ares  e ventos. Ele era o mais nobre dos Ainur. Já sobre a textura da Terra, Aulë era o que mais pensava sobre.

Parece muito vaga a ideia de como o pensamento dos Ainur criaram o mundo. E ainda mais difícil enxergar as alterações feitas pela dissonância de Melkor. O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 08

Mas existe um momento no livro que tudo passa a fazer sentido.

E Ilúvatar falou a Ulmo, e disse: – Não vês como aqui neste pequeno reino, nas Profundezas do Tempo, Melkor atacou tua província? Ele ocupou o pensamento com um frio severo e implacável, mas não destruiu a beleza de tuas fontes, nem de teus lagos cristalinos. Contempla a neve, e o belo trabalho da geada! Melkor criou calores e fogo sem limites, e não conseguiu secar teu desejo nem sufocar de todo a música dos mares. Admira então a altura e a glória das nuvens, e das névoas em permanente mutação; e ouve a chuva a cair sobre a Terra! E nessas nuvens, tu és levado mais para perto de Manwë, teu amigo, a quem amas. O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 08

É interessante ver que o pensamento de negativo de Melkor ajudou a criar a neve, e os calores de sua vontade causou a aparição das nuvens e consequentemente o resultado da chuva.

Respondeu então Ulmo: – Na verdade, a Água tornou-se agora mais bela do que meu coração imaginava. Meu pensamento secreto não havia concebido o floco de neve, nem em toda a minha música estava contida a chuva que cai. O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 09

Essa é uma das belezas na história de Tolkien. Os efeitos naturais são atribuídos às relações de disputa entre os ainur.

Nem tudo o que derivou da criação de Melkor foram coisas ruins.

O desaparecimento das visões e Eä

Porém, no momento em que Ulmo falava, e enquanto os Ainur ainda contemplavam a visão, ela foi recolhida e permaneceu oculta Pareceu-lhes que naquele instante eles percebiam uma nova realidade, as Trevas, que eles ainda não conheciam a não ser em pensamento. Estavam, porém, apaixonados pela beleza da visão e fascinados pela evolução do Mundo que nela ganhava existência, e suas mentes estavam totalmente voltadas para isso; pois a história estava incompleta, e os círculos do tempo, ainda não totalmente elaborados quando a visão foi retirada. E alguns disseram que a visão cessou antes da realização do Domínio dos Homens e do desaparecimento gradual dos Primogênitos; motivo pelo qual, embora a Música estivesse sobre todos, os Valar não viram com o dom da visão as Eras Posteriores ou o final do Mundo. O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 09

Muitos eventos e acontecimentos futuros foram encobertos, e nenhum Ainur conseguiu ver como se daria os desfechos das Eras.

Eru sabia que os Ainur ficariam inquietos e explicou que o próximo passo seria o SER, e o não mais o DEVER SER.

Tudo o que havia acontecido era o DEVER SER. O  SER aconteceria após aquele evento.

Quando Eru disse Eä! ele ordenou que as coisas existiriam. O planejamento, a música cantada, tomaria sua forma física.

Logo, eu digo: Eä! Que essas coisas Existam! E mandarei para o meio do Vazio a Chama Imperecível; e ela estará no coração do Mundo, e o Mundo Existirá; e aqueles de vocês que quiserem, poderão descer e entrar nele. – E, de repente, os Ainur viram ao longe uma luz, como se fosse uma nuvem com um coração vivo de chamas; e souberam que não era apenas uma visão, mas que Ilúvatar havia criado algo novo: Eä, o Mundo que É.O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 09

Quando Eru disse Eä! ele ordenou que as coisas existiriam. O planejamento, a música cantada, tomaria sua forma física. E então, alguns ainur resolveram deixar a companhia de Eru e desceram para Arda.

Os Valar, suas limitações e a verdadeira criação da Terra

Os mais fortes e belos Ainur despediram-se de Eru e entraram em Arda.

Havia uma condição para isso. Não fica claro se foi uma condição imposta pela mera vontade de Eru ou consequência necessária de seu amor (como diz Tolkien), mas o poder dos Ainur que fosse para aquele Mundo seria restringido.

Assim passariam a ser os poderes daquele Mundo, e ficariam restritos a ele, e dele não poderiam sair, Por esse motivo passaram a ser chamados de Valar (Poderes do Mundo).

O nome Valar foi dado pelos Elfos, enquanto os Homenes, chamavam esse Ainur de Deuses.

No relato dos Elfos sobre essa raça, ele dizem que 7 foram os Senhores dos Valar que vieram para a Terra.

Manwë […] Ele foi designado para ser, na plenitude do tempo, o primeiro de todos os Reis: senhor do reino de Arda e governante de todos os que o habitam. Em Arda, seu prazer está nos ventos e nas nuvens, e em todas as regiões do ar, das alturas às profundezas, dos limites mais remotos do Véu de Arda às brisas que sopram nos prados. Súlimo é seu sobrenome, Senhor do Alento de Arda. Ele ama todas as aves velozes, de asas fortes, e elas vão e vêm, atendendo às suas ordens.

Ulmo é o Senhor das Águas. Ele vive só. Não mora em lugar algum por muito tempo, mas se movimenta à vontade em todas as águas profundas da Terra ou debaixo dela. Seu poder só é inferior ao de Manwë; e, antes da criação de Valinor, era seu melhor amigo. A partir dessa época, entretanto, raramente foi às assembléias dos Valar, a menos que questões importantes estivessem em discussão.

Aulë tem poder pouco inferior ao de Ulmo. Governa todas as substâncias das quais Arda é feita. […] Ele é ferreiro e mestre de todos os ofícios; deleita-se com trabalhos que exigem perícia, por menores que sejam, e também com a poderosa construção do passado. São suas as pedras preciosas que jazem nas profundezas da Terra, e o ouro que é belo nas mãos, não menos do que as muralhas das montanhas e as bacias dos oceanos.

Oromë, é um senhor poderoso. Embora seja menos forte do que Tulkas, é mais temível em sua ira; ao passo que Tulkas sempre ri, tanto na luta por esporte quanto na guerra; e, mesmo diante de Melkor, ele riu em batalhas ocorridas antes do nascimento dos elfos. Oromë amava as terras da Terra-média e as deixou a contragosto, sendo o último a chegar a Valinor. Muitas vezes, no passado, atravessava as montanhas de volta para o leste e retornava com suas hostes para os montes e as planícies. É caçador de monstros e feras cruéis e adora cavalos e cães de caça, ama todas as árvores, motivo pelo qual é chamado de Aldaron e, pelos sindar, Tauron, o Senhor das Florestas.

Mandos […] é o guardião das Casas dos Mortos; e o que convoca os espíritos dos que foram assassinados. Nunca se esquece de nada; e conhece todas as coisas que estão por vir, à exceção daquelas que ainda se encontram no arbítrio de Ilúvatar. Ele é o Oráculo dos Valar; mas pronuncia seus presságios e suas sentenças apenas em obediência a Manwë.

Lórien […] é o senhor das visões e dos sonhos. Em Lórien estão seus jardins na terra dos Valar, repletos de espíritos, são os mais belos locais do mundo.

Tulkas, chegou a Arda por último, para auxiliar os Valar nas primeiras batalhas contra Melkor. Aprecia a luta corpo a corpo e as competições de força; não cavalga nenhum corcel, pois supera em velocidade todas as criaturas providas de patas, além de ser incansável. Seu cabelo e sua barba são dourados; e sua pele, corada. Suas armas são suas mãos. Presta pouca atenção ao passado ou ao futuro, e não tem serventia como conselheiro, mas é um amigo destemido.

Vieram também as Rainhas Valar…

Varda, Senhora das Estrelas, que conhece todas as regiões de Eä. Sua beleza é por demais majestosa para ser descrita nas palavras de homens ou elfos, pois a luz de Ilúvatar ainda vive em seu semblante. Na luz estão seu poder e sua alegria.

Yavanna […] é a esposa de Aulë, a Provedora de Frutos. Ela ama todas as coisas que crescem na terra, e guarda na mente todas as suas incontáveis formas, das árvores semelhantes a torres nas florestas primitivas ao musgo sobre as pedras ou aos seres pequenos e secretos que vivem no solo.

Nienna […] vive sozinha. Ela conhece a dor da perda e pranteia todos os ferimentos que Arda sofreu pelos estragos provocados por Melkor. Tão imensa era sua tristeza, à medida que a Música se desenvolvia, que seu canto se transformou em lamento bem antes do final; e o som do lamento mesclou-se aos temas do Mundo antes que ele começasse. Não chora, porém, por si mesma; e quem escutar o que ela diz, aprende a compaixão e a persistência na esperança.

Estë a Suave, curadora de ferimentos e da fadiga, é sua esposa. Cinzentos são seus trajes, e o repouso é seu dom. Ela não se movimenta de dia, mas dorme numa ilha no lago sombreado de árvores de Lórellin.

Vairë, a Tecelã, é esposa de Mandos, e tece em suas telas, repletas de histórias, todas as coisas que um dia existiram no Tempo, e as moradas de Mandos, que sempre se ampliam com o passar das eras, estão re-vestidas dessas telas.

Vána, a Sempre- jovem, irmã mais nova de Yavanna. Todas as flores brotam à sua passagem e se abrem se ela as contemplar de relance. E todos os pássaros cantam à sua chegada.

Nessa, a irmã de Oromë, e também ela é ágil e veloz. Ama os cervos, e eles acompanham seus passos onde quer que ela vá aos bosques; mas ela corre mais do que eles, célere como uma flecha com o vento nos cabelos. Adora dançar, e dança em Valimar em gramados eternamente verdes.

Como os Elfos fizeram o relato, Melkor não está incluído. mas ele comporia com os Senhores Valar, sendo assim teríamos 8 deles em Arda.

Minha intenção não era fazer tornar esse post extenuante, mas a descrição dos Valar é necessária, pois faz bastante sentido, quando comparamos eles com as criações na Terra.

Mesmo assim, eu convido a todos que leiam principalmente o Valaquenta caso se interessem por cada Valar.

Eles são maravilhosos e leitura vale muito a pena saber um pouco mais sobre cada um de forma aprofundada, como dever ser.

Voltando a  chegada dos Valar. Eles se assustaram ao entrarem em Eä, até então criada por eles.

Nada do que contemplaram, quando estavam fora dali, estava criado. A Terra estava sem forma e a escuridão era total.

Assim Tolkien nos mostra que a Grande Música não havia sido nada a não ser a expansão e o florescer dos pensamentos deles.

A Visão era apenas um prenúncio. Apenas a extensão de onde poderiam chegar. Eles deveriam concretizar a visão.

E assim trabalharam.

Assim teve início sua enorme labuta em espaços imensos e inexplorados, e em eras incontáveis e esquecidas, até que nas Profundezas do Tempo e no meio das vastas mansões de Eä, veio a surgir à hora e o lugar em que foi criada a habitação dos Filhos de Ilúvatar. E, nessa obra, a parte principal coube a Manwë, Aulë e Ulmo; mas Melkor também estava ali desde o início e interferia em tudo o que era feito, transformando-o, se conseguisse, de modo que satisfizesse seus próprios desejos e objetivos; O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 10

 A Verdadeira Criação de Eä

Os Valar criavam a terra que haviam vislumbrado nas Mansões de Eru. Mas Melkor sempre destruia o que podia.

Chegou até a declarar-se como senhor daquele reino. Mas Manwë se interpor contra a vontade e Melkor.

Os Valar lutaram contra Melkor e ele recuou para outras regiões e lá fez o que quis. Mas nunca deixou de desejar Arda toda.

Mudança dos Valar

Os Valar assumiram formas diferentes daquelas que sempre tiveram. Apaixonados pela imagem dos Filhos de Iluvatar adotaram formas parecidas com aquelas, menos na majestade e no esplendor.

É interessante saber que essa “forma” assumida tem a mesma função que nossas roupas. Um valor pode andar “nu”, e não seria visto pelos Filhos de Iluvatar.

Os Maiar

Outros espíritos, menos grandiosos, ou quase tão grandiosos quanto os Valar, trabalharam em conjunto, criando a terra que haviam contemplado.

Eles vieram com os Valar das Mansões de Eru, e são da mesma ordem, mas de grau inferior.

Eles são considerados criados e auxiliares dos Valar.

Dentre todos os Maiar alguns merecem grande destaque nesse momento. Ainda que no livro não seja dito (no início) é interessante sabermos quais personagens conhecidos são Maiar.

Olórin

GANDALF Olorin Fernando Franco Drunkwookie

Olórin, o maia que viria ser conhecido por Gandalf

Olórin era um maia que morava em Lórien, e sempre visitava Nienna. Com ela aprendeu a compaixão e paciência. Virtudes essas que vemos melhor quando, na Terceira Era, Olórin é enviado para a Terra-Média.

Além de Nienna, Olórin cuidava de árvores nos jardim de Irmo (Lórien).

Ele caminhava invisível em meio aos elfos ou na forma de um deles. Os elfos em sua presença não sabiam, mas tinham visões belas ou sugestões de sabedoria em seus corações. Tudo isso era obra de Olórin. Todos que escutavam ele despertam do desespero e abandonavam fantasias sinistras.

Olórin na Terra-Média

Depois de muito tempo, esse maia foi enviado para a Terra-Média (a pedido de Manwë) e veio a se transformar em alguém bem conhecido. Alguns o conhecia como Mithrandir, outros por Tharkun, Incánus e muitos por Gandalf.

A personalidade de Olórin/Gandalf

O amor de Gandalf pelo Condado, o modo como ele tratava a todos, o amor pelas cosias vivas, talvez tenha muito a ver com sua origem e com seu contato com os Valar Nienna e Lorien.

Também considero que a relação estreita dele com Gwaihir, O Senhor das Águias, se deu por conta de Manwë. Se Manwë solicitou que Olórin fosse à Terra-Média, é bem provável que as criaturas que surgiram de seu pensamento fosse agradáveis e se simpatizasse com Gandalf.

Bom… estou fugindo um pouco do tema, (mais do que me propus) então continuaremos com o livro, e no momento oportuno falo mais sobre Gandalf.

Os Maiar seduzidos por Melkor

Muitos maiar foram seduzidos pelo esplendor dos dias de glória de Melkor. Outros foram corrompidos depois.

Os Valaraukar, espíritos de força eram conhecidos como Balrogs. Houve também um Maia, que pertencera a Aulë, que passou para o lado de Melkor. Esse espírito era Gorthaur, conhecido também como Sauron.

Melkor, sua cobiça e sua forma física

E foi depois que Melkor vendo os Valar andando pela Terra, jubilosos e poderosos, que ele decidiu também assumir forma visível. E em virtude de seu animo e rancor, assumira uma forma escura e terrível.

E ele desceu sobre Arda com poder e majestade maiores do que os de qualquer outro Vala, como uma montanha que avança sobre o mar e tem seu topo acima das nuvens, que é revestida de gelo e coroada de fumaça e fogo, e a luz dos olhos de Melkor era como uma chama que faz murchar com seu calor e perfura com um frio mortal. Assim começou a primeira batalha dos Valar com Melkor pelo domínio de Arda;

Os Valar criavam e Melkor destruia. Montanhas eram erguidas e Melkor as destruir. Ele criava cavidades nos mares, transbordava rios, e nada tinha paz.

Foi por essa guerra, e essas intervenções que a Terra foi moldada e consolidada. Ainda que tudo tenha ficado diferente do propósito inicial da Musica magnifica, a terra passou a existir. Com suas montanhas, desertos, penhascos, lagos, cavernas, florestas, etc.

E assim finalmente estabeleceu-se à morada dos Filhos de Ilúvatar nas Profundezas do Tempo e no meio das estrelas incontáveis. O Silmarillion – Ainundalë, capitulo I; página 12

 Espero não ter me prolongado muito, e para o próximo post trarei relato sobre as Silmarils. Abordarei o início dos tempos, após o despertar dos Filhos de Iluvatar até o cativeiro de Melkor.

Comentem se gostaram, se poderia abordar de outra forma, ou se gostaram dessa abordagem.

11 Comentário

  1. Gabriel Moura Gabriel Moura
    29 de abril de 2015    

    Ótimo post! Nunca achei que fosse ler sobre Tolkien aqui! rs

    Sobre os Maiar faltou a Maia Melian, esposa de Thingol, o Cinzento.

    Acho que de ler (ou melhor, reler) a obra de Tolkien, ao menos seus 6 principais livros,
    – O Silmarillion,
    – Filhos de Húrin
    – O Hobbit
    – a Trilogia “O senhor dos anéis”

    seria: NÌVEL 02 (dois) – Intermediário (Ordem cronológica)

    Se pretende se aprofundar ainda mais nas obras de Tolkien deve seguir uma ordem mais complexa de leitura. A ordem cronológica pode proporcionar ao leitor essa complexidade maior.

    1) Comece pelo livro O Silmarillon, em “Ainulindalë” e depois “Valaquenta”
    2) Em seguida continue em “Quenta Silmarillion” até o fim do Capítulo XX (O Silmarillion)
    3) Leia por completo o livro “Os Filhos de Húrin”
    4) Prosseguir com a leitura do “Quenta Silmarillion” lendo apenas os capítulos XXI e XXII (O Silmarillon)
    5) No livro “Contos Inacabados” ler o Capítulo I da primeira parte dos Contos Inacabados “De Tuor e da sua chegada a Gondolin”
    6) Prosseguir com a leitura do livro O Silmarillon na parte “Quenta Silmarillion”, capítulos XXIII e XXIV.
    7) Leia na segunda parte dos Contos Inacabados, os seguintes capítulos: I – Uma descrição da ilha de Númenor, II – Aldarion e Erendis, III – A linhagem de Elros: Reis de Númenor.
    8) Leia por completo o “Akallabêth” no livro O Silmarillon.
    9) Em Contos Inacabados, leia na segunda parte o capítulo IV “A História de Galadriel e Celeborn” .
    10) No livro O Silmarillon leia “Dos Anéis do Poder e da Terceira Era” até o 30º parágrafo.
    11) Leia em seguida “Desastre dos Campos de Lis” do livro “Contos Inacabados”
    12) Ler nos apêndices de O Senhor dos Anéis, O Retorno do Rei, o Apêndice “A”, em “Anais dos Reis e Governantes”, até o fim do tópico IV “Gondor e os herdeiros de anárion”.
    13) Leia o capítulo “Cirion e Eorl e a amizade entre Gondor e Rohan”, nos Contos Inacabados.
    14) No Apêndice “A” do livro O Senhor dos anéis, O retorno do rei leia por completo o tópico segundo “A casa de Eorl”.
    15) Ler no Apêndice “A” do livro O senhor dos anéis, o tópico “parte da história de Arwen e Aragorn”
    16) Em Contos Inacabados leia a quarta parte nessa ordem: “Os Istari”, “Os Palantiri”, “Os Druedan”,
    17) Leia no Apêndice “A” de O Senhor dos Anéis, O retorno do rei, “O Povo de Durin”
    18) Leia “A Busca de Erebor”, na terceira parte do livro Contos Inacabados.
    19) Leia por completo “O Hobbit”
    20) Leia por completo o livro O Senhor dos Anéis, a sociedade do anel
    21) Em Contos Inacabados leia “A Caçada ao Anel”
    22) Leia o primeiro capítulo do livro O Senhor dos anéis, as duas torres.
    23) Em Contos Inacabados leia “As Batalhas dos Vaus do Isen”
    24) Leia o segundo capítulo até o final do livro O Senhor dos Anéis, as Duas Torres
    25) Leia por completo O senhor dos anéis, o retorno do rei
    26) Retornando em “O Silmarillon” leia “Dos Anéis do Poder e da Terceira Era” partindo do 31º parágrafo até o final do livro.

    Ou de maneira mais complexas no link abaixo!

    http://tolkienbrasil.com/noticias/diversas/ordem-de-leitura-dos-livros-de-j-r-r-tolkien/

    Só por favor, não demore a colocar novos posts!
    E faça posts sobre Eragon, que é uma grande obra perdida e deixada de lado por muitos!!

    • 3 de abril de 2017    

      Infelizmente demorei bastante, né? Porém, publiquei na semana passa a quarta e ultima parte dos posts

  2. Rodrigo Nunes Rodrigo Nunes
    29 de abril de 2015    

    Aleluia um post sobre Silmarillion que preste na net. Muito bem explicado, pois confesso que o modus operandis de Tolkien escrever, as vezes, não deixa claro muito bem as coisas que ele quer transmitir, por exemplo, eu achava que na canção dos Ainur eles já estavam construindo fisicamente Arda e não apenas idealizando um conceito. hehe!

    Drunk, sei que vc vai falar sobre isso nos próximos posts, mas sempre tive dúvida sobre as eras de Arda. Qual é a sequência correta? Eu li 2 x, e pelo que eu entendi é assim:

    1)- Era das Lâmpadas
    2)-Era das Árvores (em Valinor) e Era da Escuridão dps Era das Estrelas (na Terra Média)
    3)- Primeira Era (Beleriand)
    4)- Segunda Era (Numenor)
    5)- Terceira Era (Senhor dos anéis)
    4)- Quarta Era (dos Homens)

    ta certo? vlw

  3. Mayara Silva Mayara Silva
    4 de maio de 2015    

    Drunk, acompanho o blog principalmente para ficar ligada nas suas postagens sobre As Crônicas de Gelo e Fogo, e fiquei feliz de ver esse post dedicado ao Silmarillion (e de saber que vem mais por aí). Minha relação com O Silmarillion é essa: tentei ler uma vez e abandonei, achando que não entenderia nunca aquele estilo de escrita que Tolkien empregou; alguns anos depois o peguei na prateleira decidida a ir em frente fosse o que fosse, e acabei me apaixonando, rs.

    É ótimo poder ler seus textos sobre ele porque eu sei que algumas coisas ficaram confusas para mim. Assim como alguém comentou, eu atinha entendido que na canção os Ainur de fato já construíam Arda fisicamente, e não apenas a idealizavam.

    Fico aguardando as próximas postagens! Abraço.

    • 3 de abril de 2017    

      Oi, Mayara. Demorei muito tempo para fazer mais posts, mas finalmente finalizei a série de posts sobre o início do Silmarillion. Espero que goste!

  4. joao joao
    13 de maio de 2015    

    Rapaz, comecei a ler o Silmarillion esta semana (11/05/15). Fantástico!
    Sensacional, também, é este espaço criado por você Drunk.

    • 3 de abril de 2017    

      Terminou de ler? Espero que tenha amado, assim como eu amei! Que bom que curtiu o espaço. Te espero la na pagina do FB.

  5. Neto Bauer Neto Bauer
    14 de maio de 2015    

    Deu para ter uma visão muito boa de como é o livro, você sempre com belos textos, parabéns.

  6. Gabriel Freitas Gabriel Freitas
    16 de julho de 2015    

    Visitei o site por indicação da minha prima para ler as teóricas sobre as Crônicas de Gelo e Fogo e tropecei nesse post fantástico sobre Silmarillion, mto bom mesmo cara. Partindo pra parte dois q com certeza estará tão interessante e boa qnto está!!

    Abraço irmão…

  7. Joelton Joelton
    2 de janeiro de 2018    

    Excelente post. Serve de orientação pra quem está começando a ler O Silmarillion.

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