O Silmarillion – Parte III

A terceira (e penúltima) parte do post sobre o livro Silmarillion vem para falar um pouco sobre a primeira aparição dos Elfos, Homens e Anões na Terra-Média.
Picture11Esse será o penúltimo post dessa série, pois acredito que com as resenhas e reflexões que fiz até o momento já servem para dar um auxilio àqueles que tem interesse em conhecer a obra de Tolkien.

Agradeço à todos que acompanharam as postagens sobre O Silmarillion. O feedback de vocês foi muito importante.

O próximo post falará sobre o cativeiro de Melkor, que acredito ser o melhor momento para eu encerrar minhas considerações e torcer para que até os mais céticos, venham a se interessar à ler o livro.

Após essa série de posts, é certo que ainda continuarei a falar sobre a obra de Tolkien, porém será de uma forma mais pontual.

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Tenho vontade de reunir informações sobre determinados assuntos, determinados povos ou raças e acontecimentos específicos, encontradas em O HobbitO Senhor dos AnéisO SilmarillionContos Inacabados e informações contidas no The Complete History of Middle-Earth.

Decidi que falarei, no momento oportuno, sobre os Anões. A raça que mais me fascina na obra de Tolkien.Uma raça obstinada, teimosa e cheia de segredos.

Bem… agora deixo vocês com o post que abrange os capítulos I e II do Quenta Silmarillion.

O aparecimento dos Filhos de Ilúvatar

Após a partida dos Valar, Eru passou um grande período de tempo em meditação. E após uma eternidade ele se pronunciou:

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– Olhem, eu amo a Terra, que será uma mansão para os quendi e os atani! Mas os quendi (elfos) serão as mais belas criaturas da Terra; e irão ter, conceber e produzir maior beleza do que todos os meus Filhos; e terão a maior felicidade neste mundo.

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Já aos atani (homens) concederei um novo dom. Ele, assim, determinou que os corações dos homens sempre buscassem algo fora do mundo e que nele não encontrassem descanso; mas que tivessem capacidade de moldar sua vida, em meio aos poderes e aos acasos do mundo, fora do alcance da Música dos Ainur, que é como que o destino de todas as outras coisas; e por meio de sua atuação tudo deveria, em forma e de fato, ser completado; e o mundo seria concluído até o último e mais ínfimo detalhe.

E assim os Elfos e Homens surgiram e a cada um deles foram concedidas dádivas diferentes.

Aos elfos foi concedida a dádiva de viver eternamente,. Na verdade eles não morrem enquanto o Mundo não morrer.

Eles seriam belos e amariam as coisas cridas por Eru e seus valar.

Porém, haveriam apenas duas possibilidades em que os elfos poderiam morrer. Caso fossem assassinados ou definhassem de dor.

É interessante citar também que a idade não afeta negativamente sua força, a menos que estejam fartos de dez mil séculos.

É dito ainda que, quando morrem, os elfos são reunidos na morada de Mandos, em Valinor.

Já os homens receberiam uma outra dádiva. A dádiva da morte. os humanos não estariam ligados à terra como os elfos estão.

Na verdade a Morte é o destino dos homens. Esse destino é uma dádiva de Ilúvatar, porém Melkor lançou uma sombra sobre o dom dos humanos confundindo-os. Assim o Mal surgiu do Bem e o Medo surgiu da Esperança.

Percebam que Tolkien deixa claro que todo o Mal surge de uma distorção do Bem. no início tudo havia sido planejado para ser Bom.

Da criação dos Anões

Já os anões tiveram uma criação bem diferente.

Não foram criados por Iluvatar. Foram concebidos pelas mãos de um vala.

Os anões não estavam (ao menos de forma expressa) nos planos de Eru e não apareceram no tema proposto por Ele, na Música dos Ainur.

Os anões foram criados pelo vala Aulë.

(Aulë é um dos valar que mais tenho admiração. Falarei um pouco sobre essa admiração logo adiante.)

…tão grande era o desejo de Aulë pela vinda dos Filhos, para ter aprendizes a quem ensinar suas habilidades e seus conhecimentos, que não se dispôs a aguardar a realização dos desígnios de Ilúvatar. E Aulë criou os anões, exatamente como ainda são, porque as formas dos Filhos que estavam por vir não estavam nítidas em sua mente e, como o poder de Melkor ainda dominasse a Terra, desejou que eles fossem fortes e obstinados. Temendo, porém, que os outros Valar pudessem condenar sua obra, trabalhou em segredo e fez em primeiro lugar os Sete Pais dos Anões num palácio sob as montanhas na Terra-média.

(L-r) DEAN O’GORMAN as Fili, AIDAN TURNER as Kili, Mark Hadlow as Dori, Jed Brophy as Nori and WILLIAM KIRCHER as Bifur in New Line Cinema’s and MGM's fantasy adventure “THE HOBBIT: AN UNEXPECTED JOURNEY,” a Warner Bros. Pictures release.

Quando o trabalho dele se completava, Eru Iluvatar tomou conhecimento e falou com Aulë (que naquele exato momento estava ensinado a língua que inventara).

– Por que fizeste isso? Por que tentaste algo que sabes estar fora de teu poder e de tua autoridade? Pois tens de mim como dom apenas tua própria existência e nada mais. E, portanto, as criaturas de tua mão e de tua mente poderão viver apenas através dessa existência, movendo-se quando tu pensares em movê-las e ficando ociosas se teu pensamento estiver voltado para outra coisa. É esse teu desejo?

– Não desejei tamanha ascendência – respondeu Aulë. –

A obra de Aulë carecia de consciência e eles não passavam de fantoches. Aulë desculpou-se e, em sua defesa, disse que a Terra parecia grande o bastante para acolher outros seres. Disse que era impaciente e se comparou à um filho que copia as obras do pai.

Achei que essa humildade expressada pelo Vala muito tocante. Mesmo não sendo de sua alçada criar vida na Terra, ele tentou, buscou imitar aquele cuja obra adorava.

A humildade atinge seu ápice, quando Aulë assume seu erro e se propõem a dar fim a sua própria criação.

E Aulë apanhou um enorme martelo para esmagar os anões, e chorou. Mas Ilúvatar apiedou-se de Aulë e de seu desejo, em virtude de sua humildade. E os anões se encolheram diante do martelo e sentiram medo, baixaram a cabeça e imploraram clemência.

 Porém Eru interviu ao perceber a postura de Aulë. Os anões não seriam exterminados da Terra-Média.

E a voz de Ilúvatar disse a Aulë: – Tua oferta aceitei enquanto ela estava sendo feita. Não percebes que essas criaturas têm agora vida própria e falam com suas próprias vozes? Não fosse assim, e elas não teriam procurado fugir ao golpe nem a nenhum comando de tua vontade.

Aulë agradeceu Eru e pediu para que consertasse sua obra, mas Ele não o fez…

– Que Eru abençoe meu trabalho e o corrija. Ilúvatar voltou a falar, entretanto, e disse: – Exatamente como dei existência aos pensamentos dos Ainur no início do Mundo, agora adotei teu desejo e lhe atribuí um lugar no Mundo; mas de nenhum outro modo corrigirei tua obra; e, como tu a fizeste, assim ela será.

E até impôs regras para que Aulë liberasse sua criação em Arda.

Contudo não tolerarei o seguinte: que esses seres cheguem antes dos Primogênitos de meus desígnios, nem que tua impaciência seja premiada. Eles agora deverão dormir na escuridão debaixo da pedra, e não se apresentarão enquanto os Primogênitos não tiverem surgido sobre a Terra; e até essa ocasião tu e eles esperareis, por longa que seja a demora. Mas quando chegar a hora, eu os despertarei, e eles serão como filhos teus; e muitas vezes haverá discórdia entre os teus e os meus, os filhos de minha adoção e os filhos de minha escolha.

Percebam que há certa inimizade incutida entre Elfos e Anões desde o início dos tempos. E isso só vem a piorar no decorrer da história, exceto alguns eventos pontuais que abordarei em futuros posts.

Anões. Qualidades e defeitos

Falarei de forma mais aprofundada sobre os anões em posts futuros, mas há algumas características que devem ser ditas aqui. Aulë pensara em Melkor e em sua influência quando criou os anões e tentou preparar seus filhos para resistirem ao mal.

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Havia criado uma raça diferente com virtudes específicas e, consequentemente isso trouxe alguns defeitos.

Aulë pegou os Sete Pais dos Anões e os levou para descansar em locais bem afastados; voltou em seguida a Valinor e esperou os longos anos transcorrerem.

Como fossem surgir na época em que Melkor prevalecia, Aulë fez os anões resistentes. Por isso, eles são duros como a pedra, teimosos, firmes na amizade e na inimizade, e conseguem suportar fadiga, fome e ferimentos com mais bravura do que todos os outros povos que falam; e vivem muito, bem mais do que os homens, embora não para sempre.

Por causa de suas qualidades forjadas por Aulë, algumas lendas surgiram a respeito dos anões.

Antigamente, dizia-se entre os elfos na Terra-média que os anões, ao morrerem, voltavam para a terra e a pedra da qual eram feitos; no entanto, não é essa a crença entre eles próprios.

Existe uma lenda que trata sobre o destino dos Anões após a morte.

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Pois dizem que Aulë, o Criador, que chamam de Mahal, gosta deles e os acolhe em Mandos em palácios separados; e que ele declarou a seus antigos Pais que Ilúvatar os abençoará e lhes dará um lugar entre os Filhos no Final. Então, seu papel será servir a Aulë e auxiliá-la na reconstrução de Arda depois da Última Batalha. Dizem também que os Sete Pais dos Anões voltam a viver em seus próprios parentes e a usar de novo seus nomes ancestrais: dos quais Durin foi o mais célebre em épocas posteriores, pai daquela família mais simpática aos elfos, cujas mansões ficavam em Khazad- dûm.

Aulë e Yavanna. Montanhas e Florestas

Aulë contou à Yavanna o que havia acontecido. Ela se alegrou ao saber que Eru foi misericordioso e que a criação de seu amado passaria a existir na terra.

Porém, como Aulë escondeu dela a criação dos anões ela lhe comunicou algo viria a explicar a atitude dos anões a respeito das coisas da Natureza.

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Mas como escondeste essa idéia de mim até sua realização, teus filhos terão pouco amor pelas coisas que amo. Eles amarão acima de tudo o que fizerem com as próprias mãos, como seu pai. Escavarão a terra, e não darão atenção ao que cresce e vive sobre ela. Muitas árvores sentirão o golpe de seu machado impiedoso.

 Acontece que, naquele mesmo momento, Aulë plantou uma dúvida em Yavanna.

E os Elfos? E os Homens? Também não usaria todas as criações de Yavanna?

Yavanna questiona as futuras atitudes dos Filhos de Iluvatar

Com essa dúvida no coração, Yavanna procurou o Rei de Arda, Manwë.

Yavanna temia mais pelos olvar (seres incapazes de se mover) do que pelos kelvar (seres capazes de caminhar). entre eles ela prezava mais pelas árvores.

Os dois conversaram e tentaram interpretar a Música, pois se Yavanna pensou nisso quando cantou a Música, como poderia os Filhos de Iluvatar irem contra suas criações?

 Manwë se concentrou e pensou na Música novamente e teve uma Visão.

Percebeu que muitas coisas na Música ele não havia prestado atenção. E Eru falou com ele, e assim Yavanna teve sua resposta:

Quando os Filhos despertarem, o pensamento de Yavanna também despertará, e ele convocará espíritos de muito longe, que irão se misturar aos kelvar e aos olvar, e alguns ali residirão e serão reverenciados, e sua justa ira será temida.

Aqui eles estão falando sobre os Ents e os Huorns.

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Manwë soube também que sua canção junto com a de Yavanna conceberam as Águias, e havia intenção de Eru de que elas surgiriam antes do despertar dos Filhos.

As Águias alçariam voos tão altos que habitariam as montanhas de Aulë, mas os Pastores de Árvores andariam pelas florestas.

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Yvanna deu a notícia para Aulë… que ainda assim, deixou clara as necessidades de seus filhos, os anões.

 – Eru é generoso – disse ela – Mas teus filhos que se cuidem! Pois caminhará pelas florestas uma força, cuja ira eles despertarão por seu próprio risco.

– Mesmo assim, eles precisarão de madeira – disse Aulë, e continuou seu trabalho de ferreiro.

Esse trecho que acabei de resumir é bem interessante, pois aqui vemos a origem dos Ents, a origem das Águias e de outras criaturas.

A origem de todas as raças que conhecemos em O Senhor dos Anéis, tem início aqui em O Silmarillion. Ver esses detalhes é extremamente empolgante.

Saruman, Gandalf e um resquício de suas origens

No post anterior eu falei um pouco sobre Gandalf. Gandalf é um maiar, assim como Saruman, assim como os balrogs, assim como Sauron.

No decorrer do livro e em informações contidas em Os Contos Inacabados, sabemos que Saruman era um maia chamado Curumo, que estava à serviço de Aulë. Enquanto Gandalf, chamado de Olórin, estava a serviço de Manwë.

Se Lembrarmos da história contida em O Hobbit e O Senhor dos Anéis, poderemos ver a facilidade com que Gandalf conseguiu favores das Águias Gigantes. Provavelmente essa facilidade existia por causa de sua própria existência.

Por ter sido um servo de Mawë, faz sentido essa ligação com esses animais em específico.

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Já a origem de Saruman é ainda mais interessante. Pois, ele foi servo de Aulë, o valar que teve a pretensão e ousadia de criar uma nova raça, ou seja, os anões.

E depois de muito tempo, no final da Terceira Era, vimos Saruman repetir o feito de seu senhor, ao criar os Meio-Orcs. Esses “homens-orc”são vistos no Expurgo do Condado no livro O Retorno do Rei.

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no filme é mostrado que foi Saruman quem criou os Uruk-Hai. porém nos livros os Uruk são obra de Sauron.

Os seres malignos que vieram na Grande Escuridão têm como marca a característica de não suportarem o sol; mas os orcs de Saruman suportam, mesmo que o odeiem. Fico imaginando o que ele terá feito. Seriam eles homens que ele arruinou, ou teria ele misturado as raças dos orcs e dos homens. Isso seria uma maldade negra! As Duas Torres.

Outras criaturas foram geradas na Terra-Média

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É, porém, considerado verdadeiro pelos sábios de Eressëa que todos aqueles quendi (elfos) que caíram nas mãos de Melkor antes da destruição de Utumno foram lá aprisionados, e, por lentas artes de crueldade, corrompidos e escravizados; e assim Melkor gerou a horrenda raça dos orcs, por inveja dos elfos e em imitação a eles, de quem eles mais tarde se tornaram os piores inimigos. Pois os orcs tinham vida e se multiplicavam da mesma forma que os Filhos de Ilúvatar; e nada que tivesse vida própria, nem aparência de vida, Melkor jamais poderia criar desde sua rebelião no Ainulindalë antes do Início. Assim dizem os sábios.

Outro valar também gerou criaturas. Não criou elas do nada, como fez Aulë, mas corrompeu criaturas já existentes, moldando-as aos seus propósitos.  Melkor depravou e corrompeu elfos, criando assim seus orcs.

Os Valaraukar, conhecido como Balrogs

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Vala=poder, rauko= demônio.

Em Utumno, Melkor reuniu ao seu redor demônios, aqueles espíritos que primeiro lhe haviam sido leais nos seus dias de esplendor e se tornado mais parecidos com ele em sua depravação.

Essas criaturas lutaram ao lado de Melkor e junto com dragões, foram responsáveis por diversas destruições. Gothmog, o Senhor dos Balrogs é um dos demônios com mais destaque na saga.

Seus corações eram de fogo, mas eles se ocultavam nas trevas, e o terror ia à sua frente, com seus açoites de chamas. Balrogs foram eles chamados na Terra-média em tempos mais recentes.

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Há também outras criaturas criadas no decorrer da Terceira Era, como o caso dos Olog-Hai, Uruk-Hai, Meio-Orcs que seria mais interessante abordar em outro momento.

Por enquanto é só.

Espero que tenham gostado, e até o próximo e último post dessa série, que falará sobre o Despertar dos Primogênitos, o encontro dos Elfos com os Valar e o Cativeiro de Melkor.

5 Comentário

  1. 19 de setembro de 2016    

    Aguardando o próximo “capítulo”.

    Abraço.

    • Davi Davi
      12 de março de 2017    

      Aguardando o próximo capítulo. Parabéns pelo trabalho! Abraço

      • 16 de março de 2017    

        Seu comentário me animou para retomar o último post dessa série. obrigado, Davi.

  2. Edenilson santos oliveira Edenilson santos oliveira
    31 de março de 2017    

    Muito bom esses posta, show!!!

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